Ter um noivo doce e gentil parecia muito fora de cogitação, ele só esperava que não fosse um demônio de personalidade também. Um arrepio correu pelo corpo de Ciel, que balançou a cabeça para afugentar os pensamentos irritantes e colocou em jogo sua melhor expressão de seriedade. Faria questão de mostrar que aquela relação nunca passaria de fachada.
Ato 2
───────Os extensos corredores da mansão ecoavam os irritantes sons dos calçados chiques batendo contra o assoalho de madeira. O criado ia à frente, guiando-os, e o único apoio de Ciel, como sempre, naquele silêncio intercalado era a mão de Alois segurando a sua.
Por mais de um momento, quis dar meia volta e sair correndo, mas, considerando as condições do local onde estavam — vulgo o inferno —, seria uma ideia um tanto quanto burra.
Pouco tempo depois, o criado abriu uma grande porta de madeira escura com detalhes em ouro e se retirou, deixando-os sós naquela imensidão preenchida apenas por uma farta mesa de café da manhã e...
"Rachel, Vincent! Que bom que vocês chegaram", exclamou uma animada voz. Sua dona, uma mulher alta de beleza estonteante, longos cabelos negros, olhos rubros como sangue e roupas caras, os recebeu de braços abertos. Ao lado dela, um homem minimamente mais baixo, cabelos brancos até os ombros e sorriso complacente — também belíssimo. Os quatro trocaram abraços muito íntimos, na opinião de Ciel.
Sem qualquer dica além do óbvio, os irmãos sugeriram que fossem a Rainha Margaret e o Rei Rhys. Alois talvez apenas tivesse notado ao receber uma cotovelada de Ciel para que se curvasse em respeito e sua atenção desviasse da comida aparentemente deliciosa.
"Bom dia, Margie, como vão? Perdoem o atraso, acabamos saindo tarde." Mas estavam adiantados por onze minutos, na verdade. "Onde estão os meninos? Faz tempo que não os vemos."
"Vamos muito bem, querida, estamos ansiosos para conhecer seus garotinhos", declarou ao encará-lo com doçura. Apesar de estranhar, Ciel a achou muito simpática para quem reinava o submundo. "CLAUDE, SEBASTIAN, AS VISITAS ESTÃO ESPERANDO!", berrou Margaret, rompendo todos os pensamentos anteriores do jovem Phantomhive.
Menos de um minuto foi tempo o suficiente para que dois rapazes enormes e muito bonitos descessem pela escada. O da frente, cujo tinha uma feição séria que explicitava seu desejo de fugir dali, possuía olhos âmbar como os do pai, protegidos por óculos finos e quadrangulares, e as madeixas negras da mãe. O de trás, apesar da cor semelhante de cabelo, detinha o tom escarlate da rainha nas orbes e um sorriso pretensioso demais para o gosto de Ciel, que se reteve a encará-lo com semblante de poucos amigos.
Cada um a seu modo, pareciam querer devorar as almas dos jovens.
"Queridos!", exclamou Rachel, correndo em direção aos recém-chegados e os abraçando em um pulo, já que a diferença entre seus 1,55 e algo próximo de 1,80, a provável média de altura dos dois, era considerável. "Quanto tempo não nos vemos."
"De fato, e a senhora continua linda como sempre, madame", elogiou o mais baixo deles, guiando seus olhos aos garotos dos Phantomhive em seguida. "E vocês devem ser Ciel e Alois, eu imagino. Muito prazer, meu nome é Sebastian, esse de cara fechada é o Claude, meu irmão. Vamos tomar café primeiro, depois a gente se apresenta com mais detalhes." Sebastian apontou para a mesa posta, e Alois mal esperou para caminhar apressadamente e escolher seu lugar, denunciando a fome imensa que sentia e causando risadas aos reis.
"Fique à vontade, pequeno Alois, comam o que quiserem", autorizou Rhys, sem demora para sentar-se também.
Logo, as duas famílias já haviam se acomodado, permitindo que os adultos ficassem de um lado da mesa e os jovens do outro.
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Se prometer, não case com o Diabo
FanfictionCiel e Alois são irmãos que, para evitar uma guerra entre espécies, aceitam se casar com os príncipes do reino infernal. Mas, mais do que intrigas matrimoniais, precisão lidar com os segredos escondidos à sete chaves e com relacionamentos familiares...