Mercados trazem rixas de infância

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Quando os olhos de Claude encontraram os de Sebastian, tudo o que viram foi medo. Sebastian estava tão aterrorizado com o que fez e tão igualmente surpreso que segurava o próprio pulso contra o corpo, como se fosse algo à parte do resto dele. Como se apenas o braço de Sebastian fosse responsável por realizar um dos atos mais temíveis do submundo.

"Sebastian Michaelis... Você acabou de me bater?"

Ato 7

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Algum tempo mais cedo...

A veia na testa de Ciel ameaçaria verbalmente estourar se ela tivesse boca. De cinco em cinco segundos, ele massageava a têmpora, numa tentativa de fazer o latejamento desaparecer. Não era a primeira vez que Alois desaparecia daquele jeito, apesar de ser o lugar mais inconveniente para isso. Ciel jurava que entendia quando o irmão encontrava alguém legal em um dos bailes da nobreza e sumia, mas na porra do mercado...?! Ciel estava enlouquecendo, chegou a essa conclusão.

Além de procurar o cabelo dourado de Alois no meio da multidão, precisava se concentrar em ignorar tudo que o desgraçado ao seu lado tagarelava tal qual um rádio ligado. Minutos e um olho esquerdo piscando compulsivamente depois, desistiu. Quando desse na telha, Alois surgiria com um sorriso miserável como se tivesse acabado (no sentido literal) de sair do inferno. Resolveu, ao invés de se estressar, fazer compras, preferencialmente roupas escuras e elegantes, sem muito desconforto. Ciel achava que elas lhe caíam bem e ninguém seria louco de discordar.

Parar nas lojas foi um novo teste de paciência para Ciel. A cada item interessante que encontrava e experimentava, Sebastian escolhia uma peça ridícula de brega e dizia: "Essa é a sua cara". Ciel não o respondeu por pouco, segurando a vontade de mandar ele ir se foder entre os dentes, então empurrou a Sebastian todas as cerca de vinte sacolas, tratando-o como um mero mordomo. Talvez Sebastian tivesse algum fetiche louco de humilhação, porque levou todas as compras de Ciel com um grande sorriso no rosto, pronto para mostrar ao "Bocchan" o quão prestativo ele era. Tudo isso, claro, sem deixar de tirar sarro dos sapatos que Ciel escolhia, vez que eram todos de salto.

Apesar do passatempo e do gosto por moda, era difícil não notar a pressão que recebia dos submundanos; havia uma nítida diferença entre os olhares mal-intencionados e os de desprezo, mas Ciel não conseguia escolher qual tipo era pior. Manteve a postura aristocrática, sabendo que era poderoso o suficiente para se defender caso algo acontecesse, e a presença de Sebastian também afastava possíveis problemas.

Um tapa-olho belíssimo na vitrine de uma loja, no entanto, tirou Ciel do rumo. Azul, bordado e chique, do jeito que ele gostava. Logo em seguida, percebeu que estava alguns passos atrás de Sebastian, mas eram tantos seres transitando que o perdeu de vista. Suspirou, ciente de que não era muito seguro permanecer parado, então seguiu reto para onde pensou que Sebastian poderia estar. A breve caminhada o levou a uma área aberta, que formava um círculo amplo delimitado pelo início das barracas, quase o coração da feira.

Ciel não o viu chegar, apenas sentiu o ar saindo do próprio corpo num instante tenebroso quando recebeu um chute diretamente na barriga. A visão escureceu com a dor forte, e Ciel cambaleou com a mão no abdome até cair no chão de joelhos. Também sentiu o ardor da queda, mas estava tão desnorteado que só pôde se concentrar em buscar pelo ar.

"Vá embora, coisa nojenta. Seu lugar não é aqui." Ciel por fim conseguiu respirar novamente e encontrar forças para erguer a cabeça, vendo um homem maltrapilho e alterado por algo um pouco mais forte que álcool. Num pico de adrenalina, o corpo de Ciel formigou em poder celestial, pronto para iniciar uma luta. Quando viu nas pupilas já dilatadas de forma anormal sombra de um próximo golpe, a mão direita estalou eletricidade, porém o ataque nunca veio, já que um vulto acertou o homem com um soco no rosto.

Se prometer, não case com o DiaboOnde histórias criam vida. Descubra agora