Capítulo 9

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O som das ondas quebrando suavemente contra a areia preenchia meus ouvidos enquanto caminhávamos pela praia deserta. A luz fraca da lua refletia-se na superfície serena do mar, lançando um brilho prateado sobre a paisagem noturna. Nossos passos deixavam pegadas na areia úmida, marcando nosso caminho pela costa enquanto conversávamos em murmúrios suaves. A brisa fresca do oceano acariciava meu rosto, trazendo consigo o aroma salgado do mar e a sensação revigorante de liberdade.

Lucas caminhava ao meu lado em silêncio, sua presença firme e reconfortante ao meu lado. Seus passos eram seguros e determinados, como se ele conhecesse cada centímetro daquela praia deserta.

Olhei para ele de relance, capturando o perfil angular de seu rosto iluminado pelo luar. Seus olhos brilhavam com uma intensidade serena. Uma mecha rebelde de cabelo balançava ao vento, destacando-se contra a pele bronzeada pelo sol.

- É tão tranquilo aqui. _ comentei, quebrando o silêncio que nos envolvia. Minha voz parecia pequena e insignificante diante da vastidão do mar estendendo-se até o horizonte.

Lucas assentiu, seu olhar perdido no horizonte distante. "É o meu lugar favorito para pensar", admitiu ele, sua voz carregada de nostalgia. Lembro de ter visto ele no quintal de casa olhando para o mar de longe, pensativo, ou fumando maconha. "Às vezes, venho aqui para escapar de tudo, apenas para ficar sozinho com meus pensamentos." continuou.

Senti um aperto no peito ao ouvir suas palavras, percebendo a solidão que ele carregava consigo, mesmo em meio à beleza serena da praia. Queria dizer algo para confortá-lo, mas as palavras pareciam inadequadas diante das escolhas feitas por ele e as minhas de ser coniventes.

Em vez disso, continuei a caminhar ao lado dele, compartilhando o silêncio confortável enquanto observávamos as estrelas cintilantes no céu noturno. Cada passo que dávamos aproximava-nos um pouco mais um do outro, criando um vínculo silencioso e inquebrável entre nós.

Lucas parou de repente, olhando para o mar com um brilho travesso nos olhos. Eu o observei, intrigado com a mudança em sua expressão. Ele virou-se para mim, um sorriso malicioso se formando em seus lábios.

- Quer saber de uma coisa, Marcus? Eu acho que está na hora de dar um mergulho_ disse ele, seus olhos brilhando com uma energia repentina.

Eu ri, achando que ele estava brincando. "Você está louco? Com roupa e tudo?", perguntei, ainda sorrindo.

Antes que eu pudesse reagir, Lucas se inclinou e me pegou no colo, me erguendo com facilidade. "Lucas, o que você está fazendo?!" exclamei, rindo e protestando ao mesmo tempo. "ME COLOQUE NO CHÃO!" grito.

- Confie em mim_ disse ele com um sorriso, correndo comigo no colo em direção à água. A areia fria sob nossos pés deu lugar à água gelada que rapidamente subiu até os tornozelos de Lucas. Senti o choque do frio contra meu corpo, mas não pude deixar de rir da situação.

Lucas continuou a avançar, se jogando comigo. "Isso é loucura!" eu disse, entre risadas e calafrios.

O frio era intenso, mas a sensação de estar ali, no meio do mar à noite, com a lua brilhando sobre nós, era indescritível.

Emergi, rindo e ofegante. "Você é maluco, sabia?"

Lucas riu também, seu rosto iluminado pela lua. "Talvez. Mas você está rindo, não está?"

Assenti, ainda sorrindo. "Sim, estou."

Nadamos por um tempo, deixando que a água fria nos revigorasse e afastasse qualquer resquício de preocupação. A praia, o mar, a noite — tudo parecia conspirar para criar um momento de pura liberdade e conexão. Quando finalmente saímos da água, encharcados e tremendo, sentamos na areia, lado a lado, deixando que a brisa do mar secasse nossas roupas.

À medida que o horizonte começava a clarear com as primeiras luzes do dia. Na quietude daquela praia deserta, encontrei algo precioso e intocável: uma conexão genuína com o homem ao meu lado, estavamos tornando amigos. Ver sua família de perto, todu que ele fazia pela sua comunidade, pareceu genuíno, mas ainda acreditava que os caminhos que estava seguindo não eram corretos, mas afinal, estaríamos juntos para enfrentar qualquer desafio que a vida nos reservasse agora em diante.

Sentados na areia, observávamos o céu mudar de cor, passando dos tons escuros da noite para o laranja e rosa suaves do amanhecer. Lucas, com seus cabelos ainda úmidos e sem camisa, parecia perdido em pensamentos. Olhei para ele, tentando entender a complexidade daquele homem que, apesar de suas escolhas questionáveis, possuía uma bondade inegável.

Minha vida mudou de um dia para o outro com a chegada dele. Toda essa excitação e adrenalina que o acompanhava, de certa forma, me fazia bem, tirando-me da zona de conforto e estagnação em que eu estava antes. Mas, ao mesmo tempo, não podia ignorar a realidade: Lucas era um homem envolto em perigos e decisões duvidosas.

- Você sabe que isso não pode durar, certo? _ disse eu, quebrando o silêncio. Minha voz soou mais dura do que eu pretendia, mas era necessário. Lucas virou-se para mim, surpreso pela seriedade em meu tom.

- O que você quer dizer com isso, Marcus? _ perguntou ele, seu olhar penetrante tentando ler minha expressão.

- Quero dizer que essa vida que você leva... esse perigo constante... não é sustentável. E eu não vou me envolver nisso de olhos fechados _ respondi, mantendo meu tom firme.

Lucas suspirou, passando a mão pelos cabelos úmidos. - Eu entendo seu ponto, mas você acha que é tão simples assim? Abandonar tudo e começar de novo?

- Eu sei que não é. Hoje eu vi tudo que está em jogo, pra você. Talvez não seja simples, mas é possível. E você precisa decidir o que realmente quer para sua vida _ repliquei, tentando manter a empatia sem ceder à conivência. - Eu vejo o que você faz pela comunidade, e isso é admirável. Mas há outras formas de ajudar sem se perder nesse caminho perigoso.

Lucas ficou em silêncio por um momento, contemplando minhas palavras. A tensão entre nós era palpável, mas eu sabia que precisava ser honesto. Não podia me deixar levar apenas pela emoção e pela conexão que estava começando a sentir.

- E você, Marcus? O que você quer? _ perguntou ele finalmente, seus olhos ainda fixos nos meus.

- Eu quero viver minha vida sem olhar por cima do ombro a cada passo. Quero poder confiar nas pessoas ao meu redor e saber que estou fazendo a coisa certa. E, mais do que isso, quero que você encontre um caminho que não te destrua _ respondi, minha voz firme, mas cheia de sinceridade.

Lucas assentiu lentamente, absorvendo minhas palavras. - Vou pensar nisso, Marcus. Mas saiba que isso não é fácil pra mim. Há muitas coisas em jogo. Sei que estou colocando sua vida em risco... posso ir embora se quiser.

- Eu sei.Não precisa ir embora. E é por isso que estou aqui. Para te ajudar, se você quiser. _ disse eu, deixando claro que minha ajuda não seria incondicional.

A madrugada ia se dissipando, e o primeiro raio de sol apareceu no horizonte, lançando uma luz dourada sobre a praia. 

- Vamos, está ficando frio _ disse Lucas, levantando-se e estendendo a mão para me ajudar a levantar. Aceitei sua mão, sentindo a firmeza do seu aperto.

Enquanto caminhávamos de volta, lado a lado, sabia que havia plantado algo em sua cabeça. Lucas precisaria de tempo para processar tudo, e eu estaria lá, mantendo meu pé atrás, mas também oferecendo meu apoio.

O futuro era incerto, mas uma coisa era clara: 1- Lucas não era um homem ruim como eu imaginei... 2 - eu estava com muito medo... 3 - talvez eu estivesse me rendendo a algo que não sei lidar.

///Nota do Autor///

Oi, estou acompanhando vocês com os likes e alguns comentários, mas estou sentindo falta do engajamento de vocês com a história e com os fatos que vieram acontecendo... deixe nos comentários com está achando da história e o que vocês acham quem está por vir...

Um beijo e até a próxima.

O Dono do Morro (romance gay) - REVISANDOOnde histórias criam vida. Descubra agora