Capítulo 14

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Era uma tarde movimentada no pronto-socorro da favela. As emergências nunca cessavam, e eu estava correndo de uma sala para outra, tentando atender a todos o mais rápido possível. O calor era intenso, e o ar-condicionado do hospital mal dava conta de refrescar o ambiente.

Enquanto preenchia um prontuário na sala de triagem, ouvi um choro vindo do corredor. Levantei os olhos e vi uma mulher segurando uma criança nos braços, seu rosto marcado pela preocupação. A criança tinha cerca de sete anos, com um corte profundo na testa, de onde escorria sangue.

- Doutor! Por favor, ajude meu filho! _ a mulher implorou, a voz trêmula.

- Claro, venha comigo _ disse, guiando-os até uma das salas de atendimento.

A mãe colocou o menino na maca, e ele continuou a chorar, claramente assustado e com dor. Ajoelhei-me ao lado dele para ficar ao seu nível, tentando acalmá-lo.

- Ei, campeão. Meu nome é Marcus, sou médico aqui. Vamos cuidar desse machucado, tudo bem? _ falei suavemente, tentando ganhar sua confiança.

Ele me olhou com olhos marejados, mas assentiu levemente. Peguei uma luva estéril e comecei a limpar o corte com cuidado.

- Você é muito corajoso. Pode me dizer seu nome? _ perguntei enquanto trabalhava.

- É... é Pedro _ ele respondeu, soluçando.

- Pedro, você sabe como conseguiu esse machucado? _ continuei, tentando mantê-lo distraído da dor.

- Eu estava brincando no parquinho e... e caí de um balanço _ ele explicou, a voz tremendo.

- Entendi. Isso acontece. Mas não se preocupe, Pedro. Vamos dar um jeito nisso e logo você estará pronto para brincar de novo _ disse, sorrindo.

Terminei de limpar o corte e pedi a uma enfermeira que preparasse os materiais para sutura. Enquanto esperávamos, continuei conversando com Pedro e sua mãe, tentando mantê-los calmos.

- Mamãe, dói muito _ Pedro disse, agarrando a mão da mãe.

- Vai passar logo, querido _ ela respondeu, acariciando seu cabelo.

A enfermeira voltou com os materiais, e comecei a suturar o corte com cuidado. Pedro apertou a mão da mãe com força, mas aguentou bravamente.

- Você está indo muito bem, Pedro. Está quase acabando _ falei, tentando encorajá-lo.

Após alguns minutos, terminei a sutura e apliquei um curativo.

- Pronto, campeão. Você foi incrível. Agora, só precisa descansar um pouco e evitar brincar com muita energia nos próximos dias _ expliquei.

A mãe de Pedro me agradeceu repetidamente, aliviada por seu filho estar bem.

- Muito obrigado, doutor Marcus. Você foi muito gentil _ ela disse.

- É para isso que estamos aqui. Se precisar de mais alguma coisa, não hesite em nos procurar _ respondi.

Pedro sorriu timidamente para mim, e eu retribuí o sorriso.

- Cuide-se, Pedro. E da próxima vez, tenha mais cuidado no parquinho, ok? _ brinquei, bagunçando levemente seu cabelo.

- Ok, doutor _ ele respondeu, ainda um pouco tímido, mas claramente mais calmo.

Assisti enquanto eles saíam da sala, sentindo uma sensação de satisfação. Havia muitas dificuldades e desafios no meu trabalho, mas momentos como esse me lembravam por que escolhi essa profissão. O sorriso aliviado de Pedro e o agradecimento sincero de sua mãe eram recompensas inestimáveis. Com outras coisas acontecendo na minha vida, eu mal conseguia focar tanto em uma coisa só. Sinto meu celular vibrar no bolso. Vi pelo relógio que era minha mãe, já fazia um tempo que não conversava com ela.

O Dono do Morro (romance gay) - REVISANDOOnde histórias criam vida. Descubra agora