Capítulo 16

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Sexta-feira

Viviane, minha amiga e enfermeira do pronto-socorro, estava preocupada comigo. Ela foi até minha residência para saber como eu estava. Seus cabelos vermelhos, de uma cor nada natural, balançavam enquanto caminhava até a porta, carregando em suas mãos um pão caseiro que sua avó havia feito para mim.

Eu a recebi com um sorriso cansado. Ter saído do hospital sendo levado por policiais foi amedrontador e humilhante. Afinal, eu só fiz meu papel como médico e funcionário do governo: ajudei um necessitado.

- Marcus, você está bem? _ Viviane perguntou, seus olhos cheios de preocupação enquanto me abraçava.

- Estou... _ respondi, tentando não soar tão abatido quanto me sentia. - Só estou tentando lidar com tudo isso.

Ela me ofereceu o pão com um sorriso caloroso.

- Minha avó fez para você. Achei que poderia te animar um pouco.

Agradeci, sentindo uma onda de gratidão pelo gesto simples e reconfortante. Viviane ficou comigo por um tempo, ajudando-me a processar o caos da última noite. Conversamos sobre o que aconteceu, e sua presença me trouxe algum consolo.

Sábado

Estava exausto! Meu quarto estava todo revirado, assim como a sala de estar, o quarto onde Lucas estava, cozinha... Eu havia limpado um terço da bagunça que fizeram. Cada objeto que recolocava no lugar parecia pesar mais do que o anterior, e a ausência de Lucas era um fardo ainda maior.

Enquanto limpava, as lembranças da invasão não paravam de ecoar na minha mente.Meu telefone tocou, interrompendo meus pensamentos. Era Gabriela, a preocupação evidente em sua voz.

- Sinto muito pelo o que ocorreu._ ela disse, sem rodeios.

- Obrigado. Fernando passou aqui ontém durante a noite, queria saber como estava._ respondi, tentando manter a calma.

- Sim. Pedir para que ele fosse te ver.

- Notícias dele?_ pergunto sobre Lucas.

- Ainda não.

Agradeci e desliguei, sentindo uma mistura de desespero e esperança. Lucas estava lá fora, em algum lugar, e eu precisava encontrá-lo.

O resto do dia passei limpando e organizando a casa, tentando criar algum semblante de normalidade em meio ao caos. A tarefa me manteve ocupado, mas a sensação de impotência não me abandonava. Eu precisava encontrar uma maneira de resolver isso, de trazer Lucas de volta e provar minha inocência.

Ao cair da noite, sentei-me no sofá, olhando para a casa parcialmente arrumada. A solidão era esmagadora, e a incerteza do que estava por vir me consumia. Sabia que os próximos dias seriam cruciais, e eu precisaria de toda a força e apoio possível para enfrentar o que estava por vir.

Madrugada de Segunda

Fazia três dias desde a invasão na minha casa. O fim de semana passou em um borrão de limpeza e tentativa de reorganização, uma tarefa árdua que, por momentos, me fez esquecer a ausência de Lucas. Porém, a verdade é que a falta de sua presença pesava mais do que eu queria admitir.

Estava sentado à mesa da cozinha, um copo de chá esfriando na minha frente. A raiva fervilhava dentro de mim. Eu estava bravo comigo mesmo por ter deixado minha vida chegar a esse ponto. Como médico, sempre acreditei na capacidade de fazer a diferença, de ajudar as pessoas. No entanto, agora, parecia que minhas boas intenções haviam me colocado em um caminho de destruição.

A falta de notícias de Lucas era uma dor constante. Cada segundo sem saber onde ele estava ou se estava seguro aumentava minha angústia. A situação era insuportável. Não sabia se ele estava escondido, se havia sido capturado, ou algo pior. O que mais me doía era a sensação de impotência, de não poder protegê-lo.

Levantei-me e comecei a andar pela casa. A madrugada avançava, e a escuridão lá fora parecia refletir minha confusão interna. Sabia que precisava ser forte, encontrar uma maneira de resolver tudo isso. Mas a cada passo que dava, parecia que o chão desmoronava sob meus pés. De repente, ouvi a porta dos fundos se abrir. Meu coração disparou. Quem poderia ser a essa hora? Levantei-me devagar, tentando não fazer barulho.

A primeira coisa que me veio à mente foi a arma que eu havia escondido no assoalho de madeira, logo após a invasão. Nunca pensei que precisaria usá-la, mas as circunstâncias me obrigaram a estar preparado para qualquer eventualidade. Afinal, não deixaria invadirem minha casa novamente.

Com cuidado, deslizei a mão sob a tábua solta e puxei a arma, sentindo o peso frio e metálico em minha mão. Eu gostava da sensação, a necessidade de proteger a mim mesmo e à minha casa superava qualquer desconforto.

Avancei lentamente em direção à cozinha, cada passo calculado para não fazer barulho. A silhueta de uma pessoa apareceu na penumbra, movendo-se com cautela. Meu coração batia tão forte que parecia ecoar pelos corredores da casa.

A figura parou, e por um momento, o silêncio foi absoluto e em um movimento rápido e rependino, eu estava desarmado. Então, uma voz familiar quebrou a tensão.

- Sabe que não pode brincar com armas, não sabe?

Reconheci imediatamente a voz de Lucas, e um alívio indescritível inundou meu ser. 

- Lucas! - Exclamei, quase sem acreditar._ Onde você esteve?

Ele deu um passo à frente, a luz da cozinha finalmente iluminando seu rosto. Parecia cansado, mas estava ali, na minha frente. Sem pensar, atravessei o espaço entre nós e o abracei com força. O medo, a preocupação, a raiva – tudo se dissolveu naquele instante. Lucas me segurou, levemente me erguendo do chão, sem demorar muito me pondo de volta no piso frio da cozinha. Me soltei de seus braços fortes que me enguliram em musculos e vi seu rosto novamente.

- Eu estava me escondendo, esperando a poeira baixar _ ele disse, sua voz abafada pelo meu ombro. - Eu não queria te colocar em mais perigo.

- Não me importa o perigo, Lucas. Eu só quero que você esteja seguro.

Ele sorriu, um sorriso cansado, mas sincero. Meu coração podia saltar do peito, eu nunca estive tão perto dele dessa forma, em um lapso e excitação, o beijei.

O beijo foi urgente, carregado de toda a tensão e medo acumulados. Por um momento, ele hesitou, surpreso, mas logo retribuiu com igual intensidade. Quando nos separamos, ambos estávamos sem fôlego, e eu percebi a confusão em seus olhos.

Ele balançou a cabeça, ainda sorrindo levemente. - Eu também senti a sua falta.

O Dono do Morro (romance gay) - REVISANDOOnde histórias criam vida. Descubra agora