O dia havia amanhecido estranho. Uma onda de ansiedade me tomou por completo de uma forma que mal havia conseguido comer pela manhã. Abri a porta do quarto de Lucas lentamente para vê-lo ainda dormir. Tudo estava fora do eixo! O dia havia sido agitado no pronto-socorro da favela. Emergências constantes, dramas pessoais dos pacientes, e eu correndo de um lado para outro para atender a todos. O sol se punha lentamente quando finalmente consegui encerrar meu plantão. O calor intenso do dia dava lugar a uma brisa suave da noite, e eu me sentia cansado, mas aliviado por ter conseguido ajudar tantas pessoas.
Quando me preparava para sair do hospital, uma sombra se projetou sobre mim. Ergui os olhos e me deparei com uma equipe de policiais entrando com determinação pelo corredor do pronto-socorro. Meu coração deu um salto no peito, uma mistura de perplexidade e ansiedade me dominando.
- Dr. Marcus Gonçalves? _ perguntou o policial à frente, sua expressão séria e impenetrável.
- Sim, sou eu. O que está acontecendo? _ perguntei, tentando manter a calma apesar do turbilhão de pensamentos em minha mente.
- Precisamos que nos acompanhe para prestar alguns esclarecimentos na delegacia - disse ele, sua voz baixa e firme.
Eu me senti como se estivesse em um filme, uma reviravolta repentina que eu não esperava. Tentava processar o que estava acontecendo enquanto os policiais me conduziam para fora do hospital, ignorando os olhares curiosos dos colegas e pacientes que observavam a cena com perplexidade.
O caminho até a delegacia foi uma névoa de preocupação e incerteza. As perguntas martelavam em minha mente: Por que estavam me acusando? O que isso tinha a ver comigo? Onde estava Lucas nisso tudo?
Chegando à delegacia, fui levado para uma sala de interrogatório austera. Os policiais começaram a fazer perguntas, acusando-me de envolvimento em atividades criminosas relacionadas à favela. Me perguntavam sobre Lucas e sobre esconder ele em minha casa. Eu me defendia veementemente, explicando que meu único vínculo com aquela comunidade era através do meu trabalho como médico, ajudando aqueles que mais precisavam.
Mas as palavras pareciam cair no vazio. O clima na sala era pesado, a pressão aumentava a cada momento. Eu me sentia como se estivesse à beira de um abismo, tentando encontrar apoio onde só havia desconfiança.
Horas se passaram, um turbilhão de acusações e negações, até finalmente ser liberado sob fiança. A sensação de alívio misturada com raiva pulsava em minhas veias enquanto saía da delegacia. A noite havia caído sobre a cidade, e eu me encontrava sozinho na rua, tentando processar o que acabara de acontecer.
Meu celular vibrava constantemente com mensagens de apoio. Entre elas nenhuma de Lucas, alguma coisa havia acontecido. Aquilo me trouxe à tona uma nova camada de preocupação.
Caminhei lentamente em direção ao meu carro, olhando para o céu estrelado acima de mim, e corri para casa. Mas ao abrir a porta, meu coração afundou. A casa estava um caos. Móveis revirados, objetos espalhados pelo chão, papéis amassados e gavetas deixadas abertas. Uma visão de destruição que contrastava brutalmente com a tranquilidade que eu esperava encontrar em casa.
- Lucas? _ chamei, minha voz ecoando vazia na sala revirada.
Não houve resposta. Meu coração começou a bater mais rápido. Onde estaria Lucas? Por que a casa estava assim? Os políciais o levaram? Uma sensação de pavor começou a se infiltrar em mim enquanto eu atravessava os cômodos, procurando por qualquer sinal dele.
O medo se transformou em raiva enquanto eu olhava ao redor, impotente diante da devastação. Como isso poderia estar acontecendo? Eu não era um criminoso. Eu tinha uma vida simples, um trabalho que amava.
Mas agora, tudo isso estava em perigo. A incerteza, a sensação de que a justiça estava sendo distorcida, era avassaladora. Eu precisava encontrar Lucas, garantir que ele estava bem. Mas, antes de qualquer coisa, eu precisava lidar com essa situação.
A revolta cresceu dentro de mim enquanto eu olhava ao redor da minha casa invadida. Era uma violação não apenas física, mas emocional. Uma ferida que não cicatrizaría facilmente, mesmo que as acusações fossem provadas infundadas.
Respirei fundo, forçando-me a manter a calma. Eu não podia me dar ao luxo de perder o controle agora. Lucas precisava de mim, e eu não descansaria até que ele estivesse ao meu lado novamente, seguro e protegido!
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O Dono do Morro (romance gay) - REVISANDO
RomanceNuma reviravolta do destino, o médico Marcus se vê envolvido com um dos criminosos mais procurados do país, sem sequer saber sua verdadeira identidade. Ao salvar a vida de Lucas Ribeiro, um ex-policial corrupto e traficante fugitivo, Marcus se torna...