A imagem da cidade era quase como um borrão em movimento, nada possuía forma nítida, ao menos era o que parecia aos olhos de Kai, que corria como se sua vida dependesse disso, e não podia deixar de olhar para o garoto tentando fugir de maneira desesperada.
Kai não esperava que ele fosse rápido. Muito menos ágil, desviando dos transeuntes como se fosse uma dança que ele sabia de cor e salteado. Lloyd havia sido um moleque desajeitado que tinha tremenda força, disso Kai lembrava-se bem (e como poderia esquecer?) mas nunca o viu correr rápido daquela maneira, quase como se Kai na verdade quisesse matá-lo.
Por outro lado, enquanto Lloyd praticamente passava pelas pessoas como um fantasma, Kai já tinha menos dessa habilidade e hora ou outra esbarrava em alguém, escutando um xingamentos que ele mal prestava atenção. Normalmente, ele poderia ter duas reações: encolher-se e pedir desculpas, ou explodir. Dependia da atitude da pessoa.
Sem olhar o sinal, Lloyd atravessou a rua, sem parar de correr. Kai, que sempre odiou as corridas das aulas de educação física, agora via-se precisando delas, já cansado. No basquete, contudo, não precisava correr tanto. Suas pernas tremiam e imploraram por um descanso, mas ele não podia parar. Ele não teria essa chance de novo. Ele precisava pará-lo e gritar não era a solução.
Lloyd não se importava de atrapalhar quem fosse que estivesse na rua, desde que pudesse fugir dele. O que ele queria dessa vez? Se perguntou se deveria parar e perguntar, mas ao pensar nessa possibilidade, sentia o sangue das extremidades de seu dedo sumirem e deixarem-no gelado com o pânico, que servia de combustível para que corresse mais. Ele não havia mudado muito. Só parecia mais... cansado.
Já fazia um tempo desde que estava correndo e esgueirando-se de esquina em esquina, de beco em beco e de grupo em grupo de turista, mas aquele cara ainda estava atrás dele. Foi quando ele resolveu virar a cabeça, e sentiu um solavanco, fazendo seu pé escorregar no chão e ele cair. Mas algo agarrou seu pulso firmemente, o impedindo de cair na água de um dos canais de água que passavam pela cidade. Lloyd podia ver seu reflexo ofegante ser borrado pela água de um azul profundo. Ao olhar para trás, um Kai de dezessete anos, alto, tão ofegante quanto, com uma cicatriz em seu olho cercado por um hematoma, o segurava pelo pulso com suas duas mãos ásperas e cheias de calos.
Ele o salvou?
Kai o puxou de volta, fazendo-o ficar de pé no lugar. Seus pulmões pareciam pegar fogo, enquanto isso, Lloyd não parecia nem mesmo estar tão cansado, mesmo que ofegante, ele mantinha uma postura reta. Ele passou a mão pelos seus cabelos dourados, arrumando-os depois da correria, olhando para o chão. Ainda sem largar seu pulso, Kai acenou para chamar sua atenção. Lloyd franziu o cenho, o nariz ficando torto com confusão.
"Eu" Kai esticou o dedo indicador, e apontou para si mesmo. Cansado, seu dedo demorou encostado em seu peito enquanto ele tentava lembrar dos outros sinais.
Pensou tanto neste momento que não queria estragá-lo. Sentia uma urgência, uma ansiedade, algo que só lembra de sentir-se quando criança quando estava prestes a fazer aniversário. Era como se precisasse voltar a correr, tudo para diminuir aquele pânico em seu peito.
"Quero" Ele levou a mão a frente, puxando-a de volta, de maneira que parecia uma garra virada para cima.
Só assim soltou a mão de Lloyd para o último sinal.
"Conversar" Kai fechou a mão esquerda em um punho e tocou as costas dela com a outra, movimentando-as em formato circular em direções opostas.
Ele quer conversar? Ele sabe linguagem de sinais? Lloyd arregalou os olhos.
"Você sabe linguagem de sinais?" Lloyd gesticulou, agitado, os movimentos violentos como sua expressão indignada, o cenho franzido.
Kai desviou o olhar por uns segundos, e assentiu com a cabeça, colocando as mãos nos bolsos de sua calça.
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Ninjago AU - Eu (Não) Posso Ouvir Você (Greenflame)
FanfictionCANCELADA, PORQUE VAI VIRAR ORIGINAL :D Kai era uma criança terrível, especialmente quando estava com sua amiga, uma órfã chamada Harumi, com a qual parecia ser colado pelo quadril, estando juntos onde quer que fossem, especialmente quando o assunto...