¸.·✩·.¸¸.·¯⍣✩𝐂𝐚𝐩𝐢𝐭𝐮𝐥𝐨 𝟏𝟓¸.·✩·.¸¸.·¯⍣✩

81 11 27
                                    

(𝐒𝐧 𝐩𝐨𝐯)


Ao chegar na cafeteria vejo que ele ainda não chegou. Me sento num sofazinho encostado na parede ao lado da janela e começo a pensar no que vou dizer. Qual foi, é óbvio que vamos terminar. Quando percebo, estou com as pernas tremendo e os olhos lacrimejando. A Nobara iria me julgar horrores se tivesse aqui. Ela diria algo como "Eu não acredito que você já ta sofrendo. Ele nem chegou ainda, se recompõe mulher!". Acabo soltando um risinho com esse pensamento.

- Opa, desculpa a demora - Yuji diz, me tirando dos meus devaneios. Ele estava lindo, como sempre. Um casaco moletom amarelo e uma calça preta, além de um boné escondendo seus cabelos cor-de-rosa.

- Tudo bem. Pode me dizer o motivo dessa conversa? - Pergunto logo, só quero tirar essa ansiedade do meu peito.

- Uau, direta como sempre. - ele diz, rindo - Brincadeira, sei como você é ansiosa. Essas horas devem ter sido uma tortura para você.

Não posso deixar de notar que ele parece nervoso, coçando a nuca e sorrindo frouxo. Ai Yuji... Você não muda nunca... Isso vai doer para caralho.

- Poxa, eu não sei como dizer isso. Não sei como começar, isso não me parece certo... - Ele começa, mal consegue me olhar nos olhos. Talvez ele esteja sofrendo tanto quanto eu. Quebrar o coração de alguém também pode doer. Não foi o Ed Sheeran que disse "Para quebrar um coração você também tem que estar de coração partido"? Não sei, não consigo pensar direito agora...

- Olha, Yuji, eu já imagino o que seja. - Digo, enquanto alcanço a mão dele em cima da mesa numa tentativa de o acalmar - Vamos lá, você sabe que eu aguento. Não tenha medo.

- Que covarde eu sou, era para eu estar te consolando, não o contrário. Tudo bem... - Ele respira fundo antes de continuar, ele também está tremendo. - Você sabe que você é muito especial para mim, somos amigos desde quando eu me entendo por gente. Acima de tudo, eu te amo, mas eu não acho que seja da forma certa. Eu sinto muito, de verdade mesmo... - Ele começou a chorar e balançar as mãos, como se não soubesse o que fazer com elas. - Têm acontecido muita coisa nos últimos tempos, eu tenho começado a me conhecer melhor e perceber que eu não sei tanto sobre mim quanto achava saber. Eu não quero te perder, eu tô com tanto medo do que você vai achar de mim... Tanto medo de isso acabar com nossa amizade

Eu o olho uma última vez como namorado, me preparando para o olhar como amigo de novo.

- É o Fushiguro, né? - Digo, deixando as primeiras lágrimas escorrerem. De repente me passa o pensamento de que as pessoas nas mesas próximas irão contar a nossa conversa como fofoca para os amigos, assim como eu faço quando vejo uma conversa dessas em público. O bom de ser em público é que posso só correr para casa se precisar. Me passa rapidamente o pensamento de que pelo menos eu vou ser a personagem principal correndo na chuva.

- Oi? - Ele me encara, totalmente surpreso.

- Yuji, eu te conheço. Talvez você não saiba tanto sobre si, mas eu sei. Antes de ser sua namorada, fui sua melhor amiga. Tá tudo bem.

- Eu queria tanto que fosse você...

- Eu também, Yu... Eu também...

- Como você sabia que era ele?

- Você olha para ele como eu olho para você. - Ele fica instantaneamente corado.

- Eu... Por que você não foi embora, então? - A fatídica pergunta que eu me fiz várias vezes durante esse período.

- Acho que eu aceitei me propor a esse papel. O papel de te mostrar que não é isso que você quer. Que isso não é você. Que você pode tentar se forçar a gostar de mulheres, mas não vai ser verdadeiro. Dói para caralho - solto uma risadinha dolorosa - mas valeu a pena. Cada momento com você valeu a pena.

Foi o suficiente para ele desabar em choro, soluçando e tudo. Me levanto e sento ao lado dele, fazendo carinho nas costas dele.

- Ei, Yu, tá tudo bem. Eu ainda tô aqui com você.

- Porra, eu não queria te magoar. Eu não queria ter que fazer isso. Eu queria que você fosse um garoto.

Ai. Essa doeu.

Fico estática por uns segundos, assimilando o que ele disse. As vezes a gente sabe de algo, mas se recusa a digerir. Dessa vez esse algo veio com tudo como um soco no estômago. Porra, é horrível ter que consolar alguém que partiu seu coração. Não é culpa dele, mas também não é minha. Que merda.

De repente o telefone dele toca. Megumi.

- Desculpa, s/n, eu preciso atender. - Ele diz, tentando pegar o telefone antes que eu veja quem ligou. Eu já tinha visto, de todo modo.

- Tudo bem. As coisas vão ser estranhas entre nós por um tempo até nos acostumarmos com nossa situação, mas espero não perder meu melhor amigo, já perdi meu namorado. - falo, tentando ser engracadinha, o que da certo já que ele da uma risadinha. - Tenho que ir, vou me encontrar com a Nono, a gente se vê.

Saio sem olhar para trás e sem dar a ele a chance de responder. Quero poder sair rápido para chorar logo. Fingir ser forte é cansativo.

Passo o caminho todo pensando em tudo que passamos juntos. Como ele foi romântico e gentil até o fim. Penso no meu vaso de flores que vai ser um vaso vazio a partir de agora.

𝘾𝙤𝙣𝙩𝙞𝙣𝙪𝙖...

(𝟗𝟐𝟕 𝐩𝐚𝐥𝐚𝐯𝐫𝐚𝐬)

𝒟𝑜𝒸𝑒 𝓁𝒾𝒷𝑒𝓇𝓉𝒶𝒸𝒶𝑜 - 𝒩𝑜𝒷𝒶𝓇𝒶 𝓍 𝑅𝑒𝒶𝒹𝑒𝓇Onde histórias criam vida. Descubra agora