(𝐒𝐧 𝐩𝐨𝐯)
De noite, eu e Nobara vamos para o meu antigo quarto dormir, preparamos dois futons para isso. Depois de um tempo me revirando de um lado para o outro, decido ir para a varanda tomar um ar, simplesmente não consigo dormir.
Sempre gostei da vista da varanda, por ser uma cidade interior a vista do céu é tão linda...
- É ela, não é? - Minha mãe e seu dom de aparecer nos meus momentos filosóficos na varanda
- O que? - Me faço de desentendida
- "Os olhos são a janela da alma". Eu aprovo ela, ela é divertida.
- Mãe????
- Que foi?
- Eu acabei de passar por um término.
- Eu sei, e também sei que está sofrendo, mas sofrimento não impede o amor. E também não te impede de seguir em frente.
- É injusto investir em um relacionamento enquanto eu ainda penso no meu antigo. Não vou entrar mais uma vez nessa furada de ficar com alguém pensando em outro alguém.
- Eu concordo com isso, mas isso não te impede de ser sincera sobre seus sentimentos. Além disso, tome cuidado para não confundir amor com lembranças. As vezes a gente se apega tanto a saudade de um momento que não percebemos que não sentimos nada pela pessoa, só por aquele momento específico. Não estou dizendo que você não ama o Itadori, estou apenas dizendo que você está livre para novas experiências agora. Não precisa namorar agora, mas também não precisa se prender. Seguir em frente não significa que deixou de amar ele, somente significa que você quer deixar o sentimento para trás. Não seja injusta consigo mesma, não existe tempo certo para essas coisas. Além disso, você não acha que ele já deve estar nos amassos com o outro lá?
- Mãe????????????
- Que foi? Sei que dói, mas é a verdade e você não vai poder evitar isso para sempre. Fique aqui e descanse enquanto puder, mas tenha em mente que quando voltar, vai ter que lidar com isso. Você é forte, sempre foi. - Ela diz e sai da varanda.
Fico um tempo pensando sobre o que ela disse e depois volto para dormir. Nobara parece tão calma dormindo...
No dia seguinte, acordo e vejo que Nobara não está no quarto. Quando vou para a cozinha, encontro ela e meu pai batendo um papo.
- Ah, você acordou, querida. - Meu pai diz, vindo me abraçar. - Desculpa não te recepcionar ontem, o trabalho tava puxado, mas agora vou ficar um tempinho em casa.
- Vejo que já conheceu a Nobara. - Digo, após sair do abraço
- Sim sim, Kugisaki é uma ótima pessoa. As experiências dela podem até me ajudar no trabalho. Divertida, a garota. - Ele diz, rindo
- Não vá explorar a pobre coitada - Falo, rindo também
- Que isso, eu aguento. Olha como sou forte! - Nobara diz, erguendo as mangas e forçando os músculos. - E que formalidade é essa, tio? Pode me chamar de Nobara.
- Certo, me lembrarei disso. - Meu pai diz, aos risos. Pelo visto Nobara foi bem aceita na família - Vamos jantar fora hoje, ok? Comemorar que minha filhota tá em casa e ainda trouxe uma nova adição para a família
Me pergunto o que ele quer dizer com isso.
- Ok, pai. - Falo, enquanto ele vai em direção ao quarto, me deixando sozinha com Nobara. Pego um pão com manteiga para comer enquanto converso com ela. - Vejo que se deu bem com minha família.
- É meu talento. - Ela responde, se exibindo e fazendo pose. - Seus pais são bem legais.
- São... Eles me acolhem muito. E seus pais? São de boas?
- Ah. É um assunto meio delicado, não vou negar. - Nobara mostra uma certa fraqueza. É a primeira vez que a vejo com uma certa vulnerabilidade. Me sinto na obrigação de cuidar dela e proteger.
- Se não quiser falar sobre, tudo bem. Mas não nego que gostaria de saber - Não quero que ela se sinta forçada a me contar.
- Eu venho do interior também, sai de lá porque queria mais da vida, sabe? Muito mais do que aquela cidadezinha mequetrefe poderia me oferecer. Além de que o pensamento lá era muito de gente velha. Tudo era "mulher não faz isso", "mulher não faz aquilo". Se toca, eu faço o que eu quiser. Então sai de lá, mas um dia voltei e voltei diferente, não era mais aquela garotinha fofa. Falei para os meus pais que gostava de mulheres, foi para isso que fui até lá. Eu sentia que precisava enfrentar isso, que precisava que eles soubessem para que eu fosse validada. - Vejo ela parar por um instante, como se precisasse respirar. Me levanto e vou abraça-la.
- Ei, não precisa falar sobre se não se sentir pronta
- Mas eu quero falar. Eu quero enfrentar isso. Porra, eu sou a Nobara Kugisaki, não vou deixar isso me abater. - Ela respira fundo novamente, e então continua sua história. - Obviamente meus pais não aceitaram. Foi uma vibe "filha minha não é assim", "isso é coisa da cidade grande", "você vai voltar para casa e vai voltar a ser gente". Sai e não olhei para trás. Nunca mais voltei e não sei se um dia vou voltar. Amo meus pais, mas me amo muito mais e não vou mudar quem sou por eles.
- Você é uma mulher tão forte, Nono. Fico feliz que tenha contado sobre para mim. - Digo, abraçando ela novamente. - Quer dar uma volta para tomar um ar? - Pergunto e ela concorda com a cabeça.
Vamos em direção ao jardim, ficar um pouco na grama.
- Eu te acho muito corajosa, sabe? Se assumir não é fácil. Acho que tudo que envolve sentimentos é difícil. Minha mãe adivinhou que eu gostava de uma menina, então não tive que contar, mas não sei se meu pai sabe. Mesmo sabendo que eles me aceitariam independente de tudo, ainda me sobe um medo, então imagino o quão difícil foi para você. - Digo e seguro sua mão numa tentativa de consolar ela. Ficamos deitadas na grama assim em silêncio por um bom tempo. Não era desconfortável, era aliviante.
- Eu nunca namorei uma garota. Só fiquei, achava que não tinha encontrado a garota certa ainda. - Ela diz, ficando sentada e soltando minha mãe. Não tinha percebido que ainda estávamos de mãos dadas, mas agora meu corpo sente falta desse calor que ela me deu...
- Eu nunca fiquei com uma garota, mas sinto ter encontrado a garota certa. Acho que somos casos opostos. - Digo rindo, e ela ri de volta. Que sorriso lindo...
𝘾𝙤𝙣𝙩𝙞𝙣𝙪𝙖...
(𝟏𝟎𝟖𝟖 𝐩𝐚𝐥𝐚𝐯𝐫𝐚𝐬)
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𝒟𝑜𝒸𝑒 𝓁𝒾𝒷𝑒𝓇𝓉𝒶𝒸𝒶𝑜 - 𝒩𝑜𝒷𝒶𝓇𝒶 𝓍 𝑅𝑒𝒶𝒹𝑒𝓇
Romance┕━━☽【𝒟𝑜𝒸𝑒 𝓁𝒾𝒷𝑒𝓇𝓉𝒶𝒸𝒶𝑜 - 𝒩𝑜𝒷𝒶𝓇𝒶 𝓍 𝑅𝑒𝒶𝒹𝑒𝓇】☾━━┙ ┕━━☽ S/N é uma estudante de medicina veterinária, envolvida em uma rotina exaustiva entre faculdade e pequenos bicos, além de lidar com os desafios emocionais de seu curso. Seu n...