Capítulo VI

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Você já desejou que alguém te olhasse? Ou melhor, que te enxergasse?

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Você já desejou que alguém te olhasse? Ou melhor, que te enxergasse?

Quando queremos que alguém nos enxergue, já não importa mais nenhum outro olhar. Pedimos a gritos desesperados que abram os seus olhos e...nos vejam.

Nos tornamos escravos desse olhar, o necessitamos tanto quanto o ar. E, às vezes, fazemos qualquer coisa para atrair esses olhos.

Tentamos nos pôr no campo de visão do outro e desejamos ter um refletor para nos iluminar, queremos brilhar para sermos olhados, para dizer: Estou aqui!

O curioso é que os olhos que mais nos obsesionam são aqueles que não podem nos olhar.

C-como?questiona Giovanna, com os olhos tomados pelas lágrimas e o tom de voz desesperado. — Como isso é possível? Isso não pode ser real, não pode estar acontecendo... Não pode estar acontecendo comigo.

Após outra leva de exames, a médica finalmente lhe contou sobre o acidente e a perda de memória. E, de pronto, o vazio em seu peito e o nó em sua garganta foram justificados, ganhando um sentido. Um cruel sentido.

Seu peito começa a subir e descer descompassadamente.

Quando os médicos a levaram de um lado para o outro sem explicar o porquê de tantos exames, ela imaginou milhares de doenças, mas nada perto do que de fato é. Nada a preparara para essa notícia, nada.

E agora, Giovanna, sente como se o corpo estivesse caindo no vazio, num abismo sem fim. Ela olha em volta, os olhares de pena, de tristeza, e deseja do fundo do coração que tudo isso seja apenas um pesadelo.

— A sua memória a longo prazo está intacta. – diz a doutora, mostrando certo entusiasmo de maneira a tentar acalma-lá. — Estou muito otimista de que irá recuperar o restante de sua memória, Giovanna.

Giovanna movimenta a cabeça de um lado para o outro, freneticamente, desesperada.

E observando-a, o estado emocional em que ela se encontra, a única coisa que Alexandre deseja é abraçá-la e gritar: estou aqui. Tudo o que quer é que os olhos dela encontre os seus e perceba que ele não é um estranho. Que o seu toque seja reconhecido pela pele dela e a faça se sentir segura, como sempre se sentiu nos braços dele.

Mas a realidade se voltou cruel. E ele está longe do alcance dos olhos dela, longe de conseguir abraçá-la. Num canto do quarto, Alexandre se põe a uma distância segura, evitando chegar perto demais para não toca-lá e acabar tornando a situação ainda mais difícil. Ele sabe que tudo que Giovanna menos quer neste momento é sentir a mão dele sobre sua pele. E em razão disso, ele sente a impotência o corroer de dentro para fora.

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