A mente de Giovanna voa longe; e ela está tão distraída, tão imersa nos próximos pensamentos que nem nota Alessandra se aproximar devagarinho, observando-a com um olhar crítico.— Não se preocupa, Gi. — aconselha a morena com um sorriso sinuoso nos lábios, como se soubesse exatamente o que a amiga pensa. — É sério. Não tem necessidade, eu garanto.
Mas se ela acreditou por um segundo que atrairia a atenção de Giovanna de imediato, se enganou. A artista nem notou sua presença ali, até Alessandra decidir se sentar ao seu lado no sofá, ainda sem perceber que a amiga não dava a devida atenção às suas palavras. Foi só quando Alessandra afundou o estofado ao seu lado, que Giovanna a notou, sentindo o coração dar uma cambalhota com o susto.
— Q-que? – balbucia perdida e assustada, levando a mão ao peito e piscando algumas vezes para recobrar a consciência. — Pra eu não me preocupar? Por quê? D-do que você tá falando?
Alessandra solta uma leve risada nasal. E supondo que uma demonstração vale mais que mil palavras, ela gira o tronco e olha para trás. Giovanna a segue, fazendo o mesmo movimento, e acaba suspirando assim que percebe o que a amiga percebeu. As duas agora encaram o ponto em que Giovanna se encontrava perdida.
Do outro lado da sala de estar, mais precisamente atrás de uma bancada que faz a divisão entre os dois cômodos – sala e cozinha –, Alexandre continua bebendo seu uísque com Rodrigo, e dessa vez completamente alheio aos olhares direcionados a ele. O administrador conversa e ri alto enquanto organiza toda a bagunça que ficou como evidência de um dia feliz e comemorativo, sem qualquer noção de toda confusão que causou.
— Não se preocupe você – inicia uma explicação sem saber o porquê de estar fazendo isso. Agora ela parece mais "culpada" do que a segundos atrás. Entretanto, continua, desejando soar convincente. — Eu estava olhando por acaso. – ela coça a nuca, desconfortável, percebendo que era melhor ter ficado calada. — É...Não é nada demais.
Alessandra estreita o olhar, um sorriso divertido e irritante – esse último adjetivo na concepção de Giovanna – surgindo no canto dos seus lábios à medida que a amiga se põe na defensiva.
— Por acaso...Sei.– pondera as palavras ditas pela outra, deixando claro no seu tom irônico que não acredita em nenhuma mísera letra do que ela diz ou terá a dizer. — Assim como você se interessou por acaso – enfatiza fazendo aspas com os dedos. —, no que ele tinha a dizer sobre como conheceu minha prima. Embora você não quisesse necessariamente saber como, e sim qual foi o nível de intimidade entre os dois. Ou como por acaso você se retirou da mesa depois de ficar insatisfeita com a resposta que ele te deu.
Giovanna fica em silêncio. E não sabe dizer se é por constrangimento ou irritação. As vezes ela se esquece de como é fácil para a amiga conseguir decifra-lá. Chega a ser tolice de sua parte supor que consegue esconder qualquer coisa de Alessandra, já que a amiga a conhece como a palma da mão. Vez ou outra isso é bom, pois a livra de ter que falar quando a única coisa que deseja é um abraço ou uma palavra de alento, mas, por outro lado, em momentos como esse, é extremamente irritante ser um livro aberto e não conseguir esconder algo que não esteja a fim de conversar no momento.