A luminária reflete estrelas no teto.— Um menininho e o seu papai caminhavam muito felizes pelas montanhas quando, de repente, boom...O menino tropeça e cai numa caverna.
Maria imediatamente encara o pai; os olhinhos de jabuticaba à meia luz atentos a nova história que ele conta.
— Ele fez dodói, papai? – pergunta assustada.
Havia duas opções para Alexandre depois daquele telefonema: encontrar conforto onde Giovanna nunca deixou de estar, ou, uma nova garrafa de whisky.
Sabiamente, ele escolheu a primeira opção. E deitado na cama com as filhas em seu enlace, uma do lado direto e outra do lado esquerdo, ele cumpre o que prometeu à mini encrenca (Maria) na noite passada. E garante a si mesmo que de hoje em diante essa será sua única opção.
— Não, meu amor. – assegura num sussurro. — Deixa o papai continuar...Assustado, o menino soltou um "aíí" e então, para a sua surpresa, desde algum lugar, uma voz respondeu "aíí"...
— É o eco. – responde Laura, sonolenta. Os olhinhos fechados e a chupeta na boca enquanto aconchega-se mais ao pai.
Alexandre sorri e deposita um beijo no topo da cabeça dela.
— "Quem está aí?" perguntou o menino. E a voz perguntou de volta "quem está aí?" – ele prossegue, contando a história bem baixinho. — Ah, acreditando que estavam de brincadeira com ele, o menino gritou "Covardee" e a voz o respondeu...
— Covardeee. – exclama Maria, completando a narração.
E começando a ficar sonolenta como a irmã, ela alcança a sua naninha e a sua chupeta, que estavam dispostas ao lado do abajur, sobre a mesinha de cabeceira, e em seguida volta a se aninhar ao pai.
Já aconchegada em um dos braços dele, Maria leva os seus miúdos e gorduchos dedinhos ao lóbulo da orelha do pai e começa a acariciar.
De imediato o homem sente uma pontada no peito ao ser remetido à aquela que ama.
É Giovanna quem possuí a mania de acariciar o lóbulo de sua orelha, em qualquer momento de distração. Seja antes de dormir, assistindo algo na tv, deitados ou só sentados um ao lado do outro enquanto compartilham como foi o seu dia. Os dedos de sua esposa, inconsciente ou consiente, sempre procuram aquele ponto em específico de sua orelha.
Alexandre sorri com a coletânea de memórias que o invade, mas tão logo esse curvar de lábios se desfaz ao perceber a falta que ela faz para as filhas.