encadenada a ti

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Mais de 20 anos se passaram sem que eu o visse, e em apenas algumas horas eu descobri que esse desgraçado esteve escondido na minha mente todo esse tempo. No início, logo quando percebi que Alexandre não voltaria, ainda pensava nele dia e noite. A dor da ausência e da rejeição era constante, uma sombra que me seguia a cada passo. Eventualmente, me conformei com a ideia. Decidi seguir minha vida, afastando as lembranças dolorosas e buscando novas experiências.

Aproveitei cada festa que pude na Europa, mergulhei na liberdade das praias de nudismo, vivi intensamente, sem amarras. Dei meu corpo para quem quis, sem arrependimentos. Cada momento era uma tentativa de apagar a marca que ele havia deixado em mim. Acabei me envolvendo em um relacionamento longo. Foram 10 anos ao lado de Javier. Ele morando em Madrid e eu no Rio de Janeiro durante grande parte desse tempo. Mantínhamos uma conexão boa, apesar da distância. Mas, como muitas coisas na vida, esse relacionamento também chegou ao fim. E de uma forma dolorosa.

No final, eu mal passava pelas portas, tão grande era o chifre que ele me deu. A traição de Javier foi um golpe duro, no entanto, ele também me lembrou que sou resiliente. Levantei a cabeça e segui em frente, mesmo quando tudo parecia desmoronar. Afinal, eu já havia aprendido isso aos 18 anos.

Essas experiências me moldaram, fizeram de mim quem sou hoje. Cada festa, cada praia, cada amor e cada decepção foram capítulos de uma história única.

Até tentei cultivar algum casinho sério no Rio, ou em São Paulo, mas nunca consegui encontrar alguém que realmente valesse a pena. Cada tentativa era uma decepção, um lembrete de que o amor verdadeiro ficou pra Cinderela. Eu me joguei em encontros, tentando sentir aquela faísca, aquela conexão profunda que um dia senti com Alexandre. Mas, na maioria das vezes, tudo se resumia a superficialidades e desinteresse mútuo. Talvez, tudo o que senti por ele, e com ele, foi por pura ingenuidade. Não sei, essa é uma resposta que nunca terei.

Mas o sexo. O sexo que aprendi com Alexandre me fodeu pela vida toda. Ele me ensinou a intensidade, a paixão desenfreada, a entrega total. Com ele, o sexo era mais do que coisa física; era uma conexão de almas, um encaixe perfeito onde nos perdíamos um no outro. Cada toque, cada suspiro, era carregado de uma eletricidade que eu nunca mais consegui encontrar com outra pessoa.

Essa lembrança me assombra. Cada vez que estou com alguém novo, a comparação é inevitável. Nenhum beijo tem o mesmo sabor, nenhum toque provoca o mesmo arrepio, nenhum momento me leva ao mesmo êxtase que Alexandre me proporcionou. Ele definiu um padrão que, ao que parece, ninguém mais consegue atingir. Eu não saberia explicar como ainda conseguia distinguir novos toques dos seus, já foram tantos anos sem eles, mas nada chegou a se aproximar.

Eu queria mais do que corpos entrelaçados; queria aquela profundidade, aquela intensidade que me fazia sentir viva. Mas a realidade é que, depois de Alexandre, tudo parece pálido, sem vida. Fui marcada por uma experiência tão avassaladora que todos os outros momentos se tornam insignificantes em comparação e essa frustração me fez escolher não abrir mais espaço para ninguém. Bom, não de forma fixa.

Certas pessoas deixam uma marca insubstituível em nossas vidas. Alexandre foi essa pessoa para mim. Ele não apenas me massacrou; ele moldou minha compreensão do que é a vida. E, embora essa marca muitas vezes pareça uma maldição, ela também me lembra que eu sou mais forte do que acredito ser.

Decidida a parar de pensar nele (especialmente no seu pau grande e grosso, que por algum motivo nunca foi borrado da minha memória), dei o play em "Blindspot". Talvez assim, vendo um pouco de tiro e porradaria, eu conseguiria me lembrar dos motivos de nunca mais ter procurado nada sobre a família Nero e ter me afastado dos meus pais o máximo que pude. A ação frenética e os mistérios da série eram uma tentativa desesperada de desviar minha mente das lembranças que Alexandre havia deixado em mim.

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