el apagón

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Boa leitura, nenas!

A vida começou a transcorrer normal, todas as peças do tabuleiro pareciam no lugar certo. Eu e Alexandre estávamos conseguindo nos conter, mesmo que ele não me desse paz com suas mil mensagens diárias para saber como eu estava. No fim das contas, descobrimos que somos bons amigos e excelentes pais.

Oficialmente, Valentina era nossa filha. Eu seria incapaz de colocar em palavras o que senti ou ver meu nome nos documentos dela, só sei que foi a maior emoção da minha vida.

Faltavam 10 dias para inaugurarmos a nova sede da Vanilla, meus nervos estavam caóticos. Eram meus últimos dias com o sling imobilizando minha clavícula e nada me deixava mais agoniada. A mulher de 440v que sou não combina com isso, mas no fim das contas eu precisei aprender a conviver.

Aliás, eu aprendi a conviver com outro ex nessas últimas semanas: Javier.

Foi engraçado, confesso. Quando terminamos, vários e vários anos atrás, foi de um jeito ruim. Um jeito péssimo, na verdade. Encontrei ele na cama com a secretária e bem, não contei que eu tava de rolo com um carinha no Rio enquanto ele me metia os córneos em Madrid.

Descobri que a empresa para a qual ele trabalhava havia aberto escritório no Brasil e ele foi o enviado da vez. Foi uma boa surpresa retomar o contato. Almoçamos pela Barra para falar sobre o carro e foi como se não tivesse passado tempo nenhum.

Ele agora tinha dois filhos, Francisco e José, ou Paco e Pepe, como são os apelidos correspondentes na Espanha (e eu não vejo sentido nenhum), e um divórsio. Os meninos eram frutos desse casamento passado e tinham 8 e 7 anos, o que me fez ver que a única pessoa que parou no tempo fui.

Foi nostálgico. Me lembrei da época em que sonhei formar uma família com Javier. Nós tínhamos o plano perfeito, seriam dois filhos, Lucía, como sua mãe, e Juan, em homenagem à trilha sonora do início do nosso namoro (Para Tu Amor - Juanes), fora os cachorros que correriam soltos no nosso sítio em Jarandilla de la Vera, um povoado do Oeste espanhol.

De repente a ideia de ter outro filho com Alexandre me pareceu confortável. Loucura total. Certeza é uma crise que veio com os 40 e eu só percebi agora.

Quando eu menos me dei conta, já faziam 4 meses que o meu arquiteto estava outra vez na minha vida. Os meses mais intensos desde sempre. E olha que o que nunca me faltou foi intensidade.

...

Entrei na nova sede da Vanilla com um misto de excitação e nervosismo, era minha última visita antes de inaugurarmos. Alexandre me esperava nas escadas, e eu tive que reprimir um sorriso largo ao vê-lo. Tentamos manter as coisas profissionais, mas a tensão entre nós era palpável. Era sempre assim quando nos víamos, provavelmente nunca mudaria.

— Pronta para ver a sala de descanso? — Alexandre perguntou, com um brilho nos olhos.

— Prontíssima, — respondi, tentando manter a voz firme e neutra.

Caminhamos lado a lado pelos corredores modernos e elegantemente decorados em candy color. Finalmente, chegamos a uma porta dupla que ele abriu com um gesto dramático. Entrei e parei, boquiaberta.

Aqueles 40m² era um verdadeiro oásis. Alexandre havia conseguido criar um ambiente que exalava tranquilidade e sofisticação. As paredes eram de um rosa bem suave, que instantaneamente acalmava os sentidos. Poltronas confortáveis estavam dispostas em pequenos grupos, apoiadas por mesas de centro e algumas plantas internas. No canto, uma pequena biblioteca com livros variados convidava à leitura. Havia também um bar de café elegante e uma seleção de chás aromáticos. O toque final era uma parede de vidro que dava para um jardim vertical numa varandinha, permitindo que a luz natural inundasse o espaço. Ele conseguiu atender meu pedido e fez a varanda que eu tanto queria.

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