secreto a voces

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Venhaí uma coisa muito forte! Não digo nada, mas saibam que venhaí!

Giovanna

Alexandre era meu céu e meu inferno.

Assim. Um extremo sem precedentes.

Ver sua relação com Valentina era um mártir. Ele tinha tudo o que eu queria e precisava. Tinha o seu amor, enquanto eu recebia um fragmento em forma de "mãe" de vez em quando.

A verdade é que meus traumas gritavam. Me senti abandonada por ele naquele banheiro. Me senti rejeitada quando vi Valentina se rasgando em amores por ele. Me senti a mulher mais protegida do mundo ali, nos braços dele, beijando a nossa filha e olhando em seus olhos. Me senti a mulher mais amada quando ele, sem perguntar se precisava, decidiu cuidar de mim.

Foi a noite mais linda que compartilhamos desde que voltamos a nos encontrar. O pior, foi uma noite sem sexo. Isso só servia para jogar na minha cara que não adiantava fugir: nós sempre seríamos transcendentes. Nunca poderíamos ser resumidos à carne.

Ele era meu melhor sonho e meu pior pesadelo.

Além de tudo isso, ainda tem Javier. A guerra de egos entre eles era tão clara quanto a neve. No início da noite foi ótimo, mas do meio pra lá eu só conseguia me sentir imunda por estar usando meu ex contra o meu... sei lá, acho que essa é a melhor definição para Alexandre: meu.

Ele jogou sujo cantando Djavan à capela, baixinho, só para nós dois ouvirmos. Jogou sujo quando começou a me dar beijos muito mal intencionados quando já era hora dos turistas começarem a aparecer.

Inferno de homem imperfeito. Seus detalhes, suas nuances... éramos tão desconexos que nos tornamos totalmente conectados.

Me perdi olhando nossas fotos, ainda lá na Vista Chinesa. Nós formávamos um casal lindo, é verdade. Esteticamente falando, combinamos como eu nunca combinei com ninguém.

Mas bastou ele me tomar o iPhone para que eu entendesse: não somos um casal.

Pior: ele devia ser o casal de outra pessoa. Sei lá, um relacionamento a distância, uma coisa aberta ou simplesmente uns chifres.

— Vou pedir um Uber. — Disse depois dele ficar embasbacado.

— Claro que não, Giovanna. — Tentou me segurar, mas eu saí andando.

— Chega. Tu tá me fazendo de trouxa e eu tô me deixando cair igual patinha. — Bufei sentindo minha garganta secar.

— Mané fazendo de trouxa, oô sua maluca! — Ele me alcançou já no carro e me prensou contra a porta do carona.

— Agora deu pra me chamar de maluca, traste? — Protestei batendo em seu peito.

— Eu tenho motivos pra não querer que você fique bisbilhotando o meu rolo de câmera, mas não é o que você tá pensando. — Com uma facilidade irreal, Alexandre prendeu os meus punhos atrás do meu corpo e começou a beijar meu rosto inteiro.

— Para. Quem é a piranha? — Perguntei puta de raiva.

— Não tem piranha nenhuma. Eu não transo desde a nossa última vez. — Tomou minha boca na sua e eu não resisti. Não consegui.

— Alexandre, isso é uma palhaçada.

— Você vai entender. Eu prometo. Mas não posso te falar agora, não no meio desse caos. Até tentei falar antes, só que você estava com aquele papinho de "ah, é só sexo. Ah, nada de vida pessoal. Ai, porque você já sabe que eu não quero problema" e não me ouviu. Aliás, quando você me ouve, amor? — Ele me desmontou beijando meu pescoço.

Como Recuperar el TiempoOnde histórias criam vida. Descubra agora