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Faz 4 anos que deixei o Brasil.  Prometeram-me uma vida de princesa e aqui na Alemanha só tenho sofrido violência e humilhação.
Não conheço a língua, vivo dentro de casa, sem futuro.  Não tenho amigos.

Saio quando o meu companheiro precisa de me exibir em uma qualquer evento para o qual é convocado.

Tenho jóias,  vestidos caros e perfumes, mas para quê se não tenho liberdade nem sou feliz.

Saudades do meu antigo amor.  Por vezes não tínhamos dinheiro para um simples lanche mas éramos felizes.  Naquela altura eu dizia que não,  mas hoje se pudesse eu voltava a ter aquela falta de tudo em troca desta fartura.

Ricardo apareceu na minha vida num momento em que eu e Rodolffo estávamos amuados.  Fiquei encantada com a sua gentileza e com as coisas que me poderia oferecer.
Convidou-me para viajar com ele e eu aceitei de imediato.

Chegámos à Alemanha e tudo mudou.  A gentileza passou a desprezo e violência.  Saía e deixava-me trancada em casa.  Trazia o que bem lhe apetecia para eu comer e eu tinha que comer mesmo não gostando.

Recebia alguns amigos dele aqui em casa e ficava debochando de mim.
Nunca tivemos algum contacto sexual e isso eu a princípio achava estranho mas depois percebi porquê.

Eu servia para manter as aparências  perante empresários e magnatas.  Quando algum deles me elogiava e se insinuava, ele dizia que eu deveria cooperar.  Era bom para os negócios dizia.  Eu negava e durante o dia seguinte ficava de castigo sem comer e se por acaso o negócio não tinha sido concluído, eu era agredida.   Nunca me bateu na cara,  afinal eu precisava estar sempre bem para aparecer.

A minha vontade desde sempre era fugir, mas não tinha dinheiro, não me conseguia comunicar com ninguém e principalmente não tinha documentos pois ele mantinha-os escondidos.

Supliquei que me mandasse de volta, mas ele não cedeu.  Dizia que um dia voltaríamos.

Em casa não tinha telefones.  Mesmo que eu quisesse nunca poderia pedir ajuda.

Dormíamos em quartos separados e por vezes eu ouvia tudo o que acontecia no quarto dele.  Se isso me incomodava?  Não.   Talvez só pelo barulho mesmo.

Hoje chegou com um novo vestido, sapatos e um colar deslumbrante.
Arranjei-me e exigiu que fosse de cabelo solto.  O parceiro de negócios gosta de cabelos cumpridos.

- Não quis entender o que ele disse e soltei os cabelos.
Uma limusine esperava por nós no estacionamento do condomínio onde morávamos.  Assim que entrei vi um velho, talvez na casa dos 70 anos e que sorria com um ar de lascívia.

A  certa altura a limusine parou e Ricardo despediu-se do velho. Eu fiz o gesto  de que iria descer, mas os dois sorriram um para o outro e Ricardo fechou a porta.  De imediato o motorista retomou  a viagem.

Eu não entendia nada.  Fazia gestos para o velho e ele apenas ria e tentava encostar em mim.
Eu encolhia-me no canto, mas não tinha como fugir.

Ele agarrou-me e tentou beijar-me.  Eu bati nos braços dele e abanava a  cabeça no sentido negativo. Estava encurralada e não conseguia desenvencilhar-me dele.

Impedida de fugir fui prensada contra a porta e senti o hálito daquele homem bem perto da minha cara.  Quando encostou os lábios nos meus, o meu instinto foi mordê-lo.

Afastou-se rápidamente de mim, abriu a porta e empurrou-me para fora com os pés.  Cai e rolei no asfalto.  Não fui atropelada porque o condutor que vinha atrás travou de repente.

Troquei tudo por AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora