II

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Senti o alcatrão ralar a pele dos meus braços, mas por momentos ignorei a dor.  Naquele momento eu só queria uma coisa.  Que ele não voltasse atrás.

Vi alguém baixar-se para me ajudar a levantar e dizia alguma coisa naquela língua esquisita.

Sentei-me no chão e olhei para o homem que devia ter os seus 45/50 anos.

- Não entendo.  - falei gesticulando com as mãos.

- Brasileira?  Também sou brasileiro.

Levantei-me o mais rápido que pude e abracei aquele homem.

- Moço,  me ajuda, por favor. - pediu ela chorando.

- Ajudo sim.  Eu vi o que aquele monstro fez, com você.  Vamos à polícia, mas primeiro ao hospital.

- Não precisa ir ao hospital.  São só uns arranhões aqui no braço.

- Vem.  Eu te levo para minha casa e minha esposa trata de ti.  Depois vamos à polícia.  Eu fotografei a limusine.  Ele não vai escapar.

Ela foi contando a sua estadia na Alemanha e chegando a casa dele voltou a contar tudo para a esposa ouvir.

- Pobrezinha.  4 anos nesse cativeiro?

- O pior é que eu não tenho documentos.

- Eu resolvo isso, podes deixar comigo.  Logo terás os teus documentos e poderás regressar ou quem sabe procurar aqui um trabalho.

Ana e Tomé assim se chamava o  casal.  Ele produtor de eventos e ela sua assistente.
Ana providenciou uma roupa para Juliette e levou-a para tomar um banho.  Depois desinfetou-lhe os arranhões dos braços.
Jantaram os três e logo depois foi dormir.

Acordou para o café da manhã e Tomé questionou-a sobre algumas coisas.

- Diz-me tudo o que sabes.  Nomes, moradas e outros elementos.  Vou falar com um capitão meu amigo para ver o que se pode fazer.

- Eu só quero os meus documentos.  Depois posso arranjar algum trabalho para conseguir dinheiro para regressar.  Eu só desejo regressar.

Dois dias depois a polícia bate à porta de Ricardo.  Este já tinha sido avisado do sucedido e estava à espera.

- O senhor tem noção que pode ser preso por sequestro?

- Eu não sequestrei ninguém e a prova é que ela estava com outro.

- A quem você entregou como paga de um bom negócio. Mais um crime de lenocínio.  O seu amigo contou.

Sequestro, cárcere privado, lenocínio, violência doméstica, quer que continue?

- O que os senhores polícias desejam, afinal?

- A documentação e a roupa da senhora e além disso uma boa quantia por serviços de doméstica prestados durante 4 anos.  Ah! A senhora diz que só quer a roupa que é dela mesmo, não essa de trabalho.

Ricardo pediu licença.  Entrou em casa e logo voltou com o solicitado.

- Dinheiro, eu só tenho em casa 30 mil euros.  Ela que fique com tudo.

A polícia conferiu a documentação e ainda avisou.

- Isto não o livra de prestar contas à justiça.  A si e ao seu amigo.  Ela pode conseguir muito mais caso deseje apresentar queixa.  Por mim é o que vou aconselhá-la a fazer.

- Digam-lhe que podemos chegar a um acordo.

Troquei tudo por AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora