XV

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Nessa tarde fui para casa a pensar no assunto Elena.
Eu até tinha a solução,  mas longe de mim falar e ele pensar que eu tinha outros interesses.

E será que não tenho interesse mesmo?  Claro que sim.  Após tomar consciência do que seria a minha vida na Alemanha com Ricardo eu amaldiçoei-me.

Agir no impulso não é bom e eu sou a prova viva.  Sempre amei o Rodolffo, mas a mágoa não permitiu que eu enxergasse.
Sonhava muitas vezes que um dia ele ia aparecer e me tirava daquela situação,  só que o tempo foi passando e ele não chegava.

A situação de Elena estava péssima, mas eu não vou deixar que se torne pior.  Amanhã vou conversar com Rodolffo.

Acordei cedo.  No colégio tinha o Fausto à minha espera.   Havia necessidade de assinar alguma documentação.   Esperei que todas as crianças entrassem nas respectivas salas e fui recebê-lo no meu gabinete.

- Pronto.  Aqui está, Fausto.  Vai para onde agora?  Será que o hospital não fica no seu caminho?

- Fica.  Quer boleia?

- Quero.  Vou ver uma aluna que foi internada há dois dias.  Ainda não me entregaram o meu carro.

Juliette descia do carro no mesmo instante que Rodolffo saía na cafetaria do rés do chão.  Anda conseguiu ver a face do indivíduo que a trouxe.  Esperou que ela se aproximasse.

- Paquera nova?

- Não.   Só o meu advogado.

- Isso não é impeditivo de nada.

- É.  Mas temos que querer muito.

- Tu não queres?

- Neste momento tenho o coração fechado. Vai demorar muito para eu me abrir de novo.  Vou focar no trabalho.

- O amor chega sem avisar.

- Não quando o lugar está preenchido.

- Quer dizer que aí mora alguém.

- Mora e morará para sempre.

Entraram no elevador e subiram em silêncio.  Elena estava de pé bagunçando o quarto todo.

- Parece que a menina está melhor?

- Tia Ju!!  Papai!

- Vejo que estás bem melhor. 
Ainda tens dores?

- Só um bocadinho, pouco.

Juliette havia trazido um jogo de legos que Elena logo espalhou pelo chão e começou a construir.

Rodolffo observava sentado no sofá.  Juliette sentou-se junto dele.

- Pensei numa solução para a Elena que não afectará os teus espectáculos.

- O quê?  Estou aberto a todas as ideias.

- Enquanto estiveres fora ela vai para o colégio e dorme na minha casa.  Quando estiveres, fica contigo.

Rodolffo ouviu, esfregou os olhos e olhou de novo para ela.  Não falava nada.  Estava sem palavras.

- Que foi?  Não gostaste?  Desculpa, foi só uma ideia.  Eu quero ajudar.

- Se não gostei?  Juliette,  tens noção do que acabaste de dizer? A minha filha ficar contigo?  Eu tenho o coração a saltar do peito.  Olha, põe aqui a mão 

Juliette limpava as lágrimas dele com a ponta dos dedos enquanto apoiava a mão no seu peito.  Ele segurou-a e manteve-a lá.

- São lágrimas de felicidade, disse a sorrir.

Troquei tudo por AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora