Capítulo Dezessete

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Chego em casa depois das 19h. Ryle ligou há uma hora e disse que não passaria aqui hoje à noite. A separação do confuxopago (sei lá qual o palavrão que usou) foi um sucesso, mas ele vai passar a noite no hospital para qualquer eventualidade.

Entro no apartamento silencioso. Visto meu pijama em silêncio. Como um sanduíche em silêncio. Depois me deito no quarto silencioso e abro meu novo livro silencioso, esperando que ele silencie meus sentimentos.

Claro que, depois de três horas lendo, todos os sentimentos dos últimos dias aos poucos vão ficando para trás. Ponho um marcador na página em que parei, e fecho o livro.

Fico o encarando por um bom tempo. Penso em Ryle. Penso em Atlas. Penso que, às vezes, por mais que você esteja convencida de que sua vida vai seguir determinado rumo, toda a certeza pode sumir com uma simples mudança de maré.

Pego o livro que Atlas me deu e o guardo no armário com meus diários. Em seguida, pego o diário cheio de lembranças. E sei que, finalmente, chegou a hora de ler o último texto. Depois posso fechá-lo de vez.

Querida Ellen,

Na maior parte do tempo, fico feliz por você não saber que eu existo e eu nunca ter te mandado pelo correio essas cartas.

Mas, às vezes, especialmente hoje, eu queria que você me conhecesse, sim. Só preciso de alguém com quem conversar sobre tudo o que estou sentindo. Não vejo Atlas há seis meses, e não faço ideia de onde ele está nem de como está. Muita coisa aconteceu desde que escrevi pela última vez, quando Atlas se mudou para Boston. Achei que era a última vez que eu o veria por um tempo, mas não foi.

Eu o vi uma vez depois que ele foi embora, várias semanas mais tarde. Era meu aniversário de 16 anos, e, quando ele chegou, aquele se tornou o melhor dia de minha vida.

E depois o pior.

Fazia exatamente quarenta e dois dias que Atlas tinha ido para Boston. Contei cada um deles, como se fosse ajudar de algum modo. Eu estava muito deprimida, Ellen. Ainda estou. As pessoas dizem que adolescentes não sabem amar igual a um adulto. Parte de mim acredita nisso, mas não sou adulta então não tenho como comparar. Mas acredito que deve ser diferente. Tenho certeza de que tem mais conteúdo no amor entre dois adultos que entre dois adolescentes. Deve ter mais maturidade, mais respeito, mais responsabilidade. Porém, por mais que o


conteúdo de um amor seja outro em idades diferentes na vida de uma pessoa, sei que o amor precisa ter o mesmo peso. Dá para sentir o peso nos ombros, na barriga e no coração, não importa a idade. E meus sentimentos por Atlas são muito pesados. Toda noite, choro até dormir e sussurro: "Continue a nadar". Mas é muito difícil nadar quando você se sente ancorada dentro d'água.

Agora que parei para pensar, eu devia estar passando pelas fases do luto. Negação, raiva, negociação, depressão e aceitação. Eu estava justamente na fase da depressão na noite de meu aniversário de 16 anos. Minha mãe se esforçou para que eu tivesse um dia bom. Comprou instrumentos de jardinagem, fez meu bolo favorito, e nós duas saímos para jantar. Porém, quando me deitei na cama à noite, não consegui ignorar a tristeza.

É ASSIM QUE ACABAWhere stories live. Discover now