— Estou indo. Precisa de mais alguma coisa?
Ergo os olhos dos papéis e nego com a cabeça.
— Obrigada, Serena. Até amanhã.
Ela assente e vai embora, deixando a porta de meu escritório aberta.
O último dia de Allysa foi há duas semanas. O bebê pode nascer a qualquer momento. Tenho mais duas funcionárias em tempo integral, Serena e Lucy.
Sim. Aquela Lucy.
Ela casou faz alguns meses, e duas semanas atrás passou aqui procurando emprego. Na verdade, até que deu tudo certo. Ela se mantém ocupada, e, se estamos juntas aqui, é só fechar a porta do escritório para não escutar sua cantoria.
Já se passou quase um mês desde o incidente na escada. Mesmo depois de tudo o que Ryle me contou sobre sua infância, ainda assim foi difícil perdoá-lo.
Sei que ele é esquentado. Percebi isso na noite em que nos conhecemos, antes mesmo de nos falarmos. Percebi isso naquela noite terrível em minha cozinha. Percebi isso quando ele encontrou um número de telefone dentro da capa de meu celular.
Mas também sei a diferença entre Ryle e meu pai.
Ryle é compassivo. Faz coisas que meu pai nunca teria feito. Ele doa para caridade, se importa com os outros, me coloca em primeiro lugar. Ryle nunca na vida me faria estacionar na frente de casa e ficaria com a vaga da garagem.
Preciso me lembrar dessas coisas. Às vezes, a garota dentro de mim — a filha de meu pai — tem opiniões muito fortes. Ela me diz que eu não devia ter perdoado Ryle. Ela me diz que eu devia ter ido embora logo na primeira vez que aconteceu. E, às vezes, acredito nessa voz. Mas depois o lado que conhece Ryle entende que casamentos não são perfeitos. Em determinados momentos acontecem coisas das quais os dois se arrependem. E eu me pergunto como eu me sentiria comigo mesma se tivesse partido depois do primeiro incidente. Ele nunca deveria ter me empurrado, mas também fiz coisas das quais não me orgulho. Se eu tivesse simplesmente ido embora, teria contrariado nossos votos de casamento? Na alegria e na tristeza. Eu me recuso a desistir de meu casamento com tanta facilidade.
Sou uma mulher forte. Convivi com situações de violência a vida inteira. Jamais vou me tornar minha mãe. Acredito cem por cento nisso. E Ryle nunca vai se tornar meu pai. O incidente da escada foi necessário para que eu descobrisse seu passado e para que pudéssemos trabalhar a questão juntos.
Na semana passada, brigamos de novo.
Fiquei com medo. Nossas outras duas brigas não acabaram bem, e eu sabia que a próxima poria em teste minha decisão de ajudá-lo com a raiva.
Estávamos discutindo sobre sua carreira. Ele já terminou a residência e se inscreveu em um curso de especialização de três meses em Cambridge, na Inglaterra. Em breve vai descobrir se foi aprovado, mas não foi isso que me deixou chateada. É uma grande oportunidade, e eu nunca o impediria de ir. Três meses não são nada com nossa rotina atribulada, então não foi isso que me chateou. Foi quando ele comentou o que faria depois da viagem.
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É ASSIM QUE ACABA
RomanceQuando os dois se apaixonam, Lily se vê no meio de um relacionamento turbulento que não é o que ela esperava. Mas será que ela conseguirá enxergar isso, por mais doloroso que seja? É assim que acaba é uma narrativa poderosa sobre a força necessária...