4 - Sufocado

11 5 12
                                    

   Preferi não perguntar nada e o levei para casa antes de qualquer coisa. 

   Minha mãe nos recebeu na porta com a maior cara de espanto do mundo. 

   — O que aconteceu? — Ela perguntou enquanto encarava o rosto inchado e molhado de lágrimas de Guilherme. 

   — Mãe, me deixa ficar sozinho com ele um pouquinho, por favor? — Apesar da clara preocupação, ela concordou e me deixou ir para o quarto com ele, assim nos dando mais privacidade. 

   Peguei um copo de água e levei para Guilherme no quarto, enquanto ele estava sentado na cama, agora em silêncio. 

   — Quer me contar o que aconteceu? — Lhe entreguei uma barrinha de kitkat e ele deu um sorriso em meio às lágrimas. 

    — Meu padrasto chegou em casa bêbado. Mamãe foi viajar ontem para cuidar da vovó que está doente. Ele começou a me xingar e me bater. — Min arregaçou as mangas, mostrando as marcas em seus braços. — Eu fugi de casa e liguei para você na hora. 

    Sentei na cama e abracei sua cintura, apenas querendo protegê-lo. Imaginar ele sendo maltratado era o fim do mundo para mim. 

    — Você quer passar a noite aqui, Gui? Não precisa voltar para casa hoje. Eu falo com a minha mãe e tenho certeza que ela vai entender. 

    — Acha que ela vai deixar? — Ele me olhou apreensivo e com os olhos totalmente tomados pelo medo. 

    — Eu vou falar com ela agora. — Beijei a testa dele e me levantei da cama, rapidamente saindo do quarto e indo até a cozinha aonde a mamãe dava o jantar para Miguel. — Mãe, posso falar com você?

    Ela assentiu, se levantando e deixando que Miguel comesse sozinho. 

    Na sala, eu me sentei no sofá ao lado dela e contei tudo o que Guilherme havia me dito agora a pouco. 

    — Ele pode passar a noite aqui, mãe? Por favor, não quero que aquele homem machuque ele e a mãe dele não está em casa.

    Apesar do meu nervosismo, no fundo eu sabia que ela iria concordar. No meio de tudo aquilo, papai chegou do trabalho e a mamãe ficou encarregada de contar para ele o que estava acontecendo. 

    Eu precisava parecer forte para apoiar o meu moreninho, precisava cuidar dele. 

    Abri a porta do banheiro para lavar o rosto, mas a minha desatenção foi tanta que sequer percebi que estava ocupado. 

    Arregalei os olhos ao ver o Guilherme sem a blusa, agora com o tronco exposto e segurando as ataduras que usava para esconder o volume em seu peito. Ele se tampou com a camiseta na mesma hora, aparentando uma claro desespero. 

   — Meu Deus, me desculpe, Guinho! — Saí e fechei a porta rapidamente, me sentindo a pior pessoa do mundo naquele momento. 

   Voltei para o meu quarto e demorou bastante até que eu a porta do banheiro ser aberta novamente. 

    Saí do quarto para vê-lo e os olhos lacrimejados dele me cortaram o coração. 

    — Guinho, vem cá. — Abri a porta para que ele entrasse e o ouvi fungar, cobrindo o próprio rosto com as mãos. 

    — Você viu. — Ele disse em um fio de voz. — Não viu? 

    Me aproximei e segurei suas mãos junto das minhas. — Eu vi, Guinho. 

    — Vai terminar tudo comigo agora? Me desculpe por não contar, eu não queria enganar você, Luan. Por favor, não fica bravo comigo. Eu tive medo de você não querer nada comigo se soubesse que eu não sou um menino de verdade igual a você. 

Alinhamento Milenar (Taegi)Onde histórias criam vida. Descubra agora