3 - Epifania

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- Tem certeza que ele não foi embora, filho? - Minha mãe questionou enquanto aguardávamos ao lado de fora da casa de Guilherme, esperando que ele saísse.

Ontem mesmo, por mensagem de texto, eu havia oferecido carona para a escola e com muito esforço da minha parte Min aceitou, embora estivesse com medo de incomodar a mamãe.

- Não, mamãe. Eu acabei de falar com ele por mensagem. Ali! Meu moreninho, olha como é lindo.

- Moreninho? Aquele menino branquelo, Luan? Com esse apelido eu pensei que fosse um menino com a pele beijada pelo sol, mas está mais para beijado pela neve.

- Ai, mãe! O apelido é fofo, para. - Saí do carro e abri a porta para que Min entrasse. - Bom dia, Gui, entra.

- Bom dia, Luan. - Ele entrou no carro, mais especificamente no banco de trás bem ao meu lado. - Bom dia, tia Kim. É um prazer conhecer a senhora, me chamo Guilherme Min.

- Bom dia, Guilherme. Luan falou bastante de você, acredite, falou muito mesmo.

- Mãae! - Reclamei, sentindo meu rosto quente.

- Mesmo? Bom saber.

- Mesmo, mas tudo o que ele disse era verdade. Você é um menino muito lindinho, Guilherme. Agora entendi o porquê de Luan ficar tão apaixonado.

- Meu Deus, eu vou me matar. - Cobri os ouvidos de Guilherme. - Não ouça nada do que ela diz!

- Deixa de ser bobo, Luan! Me deixa falar com o garoto. Guilherme, sabia que o Luan sempre foi popular na escola? Os amiguinhos dele vivem falando que tem alguém interessado nele, mas ele nunca se mostrou interessado por ninguém. Mas de repente ele não parou de falar de um menino baixinho de traços felinos da escola dele.

- Eu estou assim importante? - Min deu um sorriso.

- Gui, não dê corda pra ela!

Apesar dos meus protestos, os dois continuam a conversa como se eu nem estivesse ali.

- Sua família é de onde, Guilherme?

- Eu nasci aqui mesmo no Rio. Meu pai era coreano e minha mãe brasileira. Papai nasceu em Daegu.

- Mesmo? Minha família também era de Daegu, que coincidência. - Mamãe respondeu, mas eu só consegui focar em um pequeno detalhe na fala de Min.

- Era? - Pensei alto demais enquanto o ouvia falar.

- Era, meu pai faleceu faz cinco anos. - Sua voz soou mais baixa. - Ele morreu em um acidente de carro em uma viagem que estávamos fazendo nas férias.

- Desculpe por te fazer lembrar disso, Gui. Sinto muito pelo seu pai.

- Tudo bem, faz bastante tempo.

- E seu padrasto é legal, Guilherme? - Minha mãe tentou deixar o clima mais leve.

- É. Ele é um pouco rígido, mas eu acho que é uma boa pessoa. - O sorriso dele parecia entristecido e de cara eu me preocupei com o ambiente que Min poderia ter dentro de casa. Inúmeros pensamentos me vieram à cabeça e eu só conseguia pensar no pior.

Calma, Luan! Não leva tudo para esse lado, porra!

- Ele não te trata bem? Pode ser sincero, Gui. - Novamente minha mãe o questionou.

- Não, não é nada disso. - Min gaguejou enquanto falava. - Ele só não demonstra sentimentos muito bem, mas meu padrasto me trata muito bem. Não se preocupem. - Deu uma risada descontraída. - Ele até paga plano de saúde para mim.

Alinhamento Milenar (Taegi)Onde histórias criam vida. Descubra agora