- Quer água, Guigui? - Entreguei a garrafinha e ele deu um bom gole, voltando a ficar quietinho ao meu lado.
Ainda levaria algum tempo até que o show começasse e haviam várias pessoas conversando, cantando e tirando fotos.
O lugar era gigante e eu nunca havia visto tanta gente junta. Na verdade eu nunca havia ido em um show na vida.
Guilherme puxou cuidadosamente a manga da minha camiseta, apontando discretamente para uma moça alta de cabelos longos encaracolados e tingidos de um ruivo alaranjado.
- O que tem a moça, pãozinho? - Beijei a bochecha macia de Min.
- A bolsa dela. Olha o bottom, Lulu. - Meus olhos foram até o minúsculo bottom de metal em formato de bandeirinha, este que tinha uma sequência de cores pastéis azul, rosa e o branco no meio e embaixo os mesmos rosa e azul de cima.
- O bottom da bandeira trans? Você gostou? - Peguei a garrafinha assim que ele terminou de beber e dei um gole também.
Guilherme assentiu. - Eu queria ser como ela, Lu. Queria ter orgulho de quem eu sou ao ponto de usar um bottom para todo mundo ver. Eu queria não ter medo das pessoas saberem que eu sou trans.
Fiquei pensativo ao ouvir aquelas palavras. Era triste pensar que Guilherme vivia com medo das outras pessoas perceberem que ele é trans. Não havia nada de errado nisso, mas era bem óbvio que ele buscava passibilidade em inúmeros momentos. Deve ser difícil tentar manter uma imagem o máximo de masculina possível a todo momento por medo do que as pessoas podem fazer, dizer ou pensar.
- Meu pãozinho, você gostaria de um bottom de presente? - Envolvi a cintura dele e lhe deixei um beijo na têmpora. - Eu tenho muito orgulho de você, Guinho. Seja decidindo mostrar para todo mundo quem você é ou então decidindo ficar no seu cantinho e manter segredo, eu sempre vou de apoiar. Tenho orgulho por você ser você.
- Está querendo me fazer chorar antes de começar o show? - Ele abaixou o olhar e sorriu abertamente. - Eu te amo, Lulu.
- Eu também te amo, meu menino. - Beijei a bochecha macia dele e dei um selinho.
Guardei internamente a informação de comprar um bottom da bandeira trans para o meu Guigui. Pessoalmente, eu gosto muito de usar as cores da bandeira gay em vários momentos e isso traz um conforto e uma sensação de pertencimento, e eu espero que Guilherme também possa se sentir assim. Qualquer coisa que eu puder fazer para ele se sentir acolhido eu farei, isso é uma promessa pessoal minha.
Algum tempo se passou para que enfim o show começasse. Gui estava tímido de início, mas aos poucos ele foi se soltando e cantando as músicas o mais alto que conseguia.
Conferi no celular a música que tocaria em seguida. Eu tinha algo especial planejado e queria que tudo saísse do jeito que eu pensei.
Tateei meu bolso para ter certeza que estava tudo em ordem. Meu coração parecia prestes a saltar para fora do peito.
Tirei a caixinha de veludo do bolso e abri, revelando duas alianças fininhas de prata, ambas com um único coraçãozinho pequeno chumbado no centro.
"E de todos os meninos e meninas que eu já amei.
Eu escolhi você.
E em todas novas vidas que eu ainda for viver
Eu vou te escolher."
Cutuquei o ombro de Guilherme e mostrei a caixinha, vendo a expressão dele ir de confusa para eufórica no mesmo segundo.
- Namora comigo, Guilherme Min? - Perguntei perto do ouvido dele.
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Alinhamento Milenar (Taegi)
RomanceAs bochechas eram rechonchudas como as de uma criança, os lábios vermelhinhos chamavam atenção e os olhos afiados davam toda a graça ao rosto delicado dele. Talvez eu tenha passado mais tempo do que deveria olhando para ele. Definitivamente era o...