21 - Confia em mim

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Último ano escolar, algo que eu sonhei por muito tempo, mas agora estava arrependido de ficar anos ansiando por tal bobagem.

Prestes a fazer dezoito, quase me formando e participando de trotes do terceirão, ou tentando. É, definitivamente o Luan que entrou no ensino médio há três anos atrás não se imaginava assim.

No início eu fiquei feliz em estar na mesma sala do meu Guigui, mas nós mal conseguíamos conversar ou passear juntos fora da escola.

Há alguns meses o mercadinho perto da casa da tia havia fechado e Guilherme resolveu ir atrás de um trabalho integral, dessa forma conseguindo um salário maior e juntando mais dinheiro para a cirurgia e também para se manter futuramente.

- Guigui, não vai almoçar? O sinal já tocou. - Acariciei as costas dele, vendo-o deitado sobre a carteira, aparentando uma exaustão enorme.

- Agora não, Lulu. Eu quero dormir só mais um pouquinho. - Ele se encolheu na carteira.

Meu coração apertava mais a cada mês que se passava. Gui sempre foi magrinho, mas depois de trocar para um emprego integral ele até mesmo havia perdido as bochechas gordinhas que eu tanto gostava de apertar. Vivia com olheiras fundas, não tinha tempo para nada, tinha uma expressão abatida e sem falar no desempenho escolar geral que havia caído absurdamente.

Até mesmo os professores viviam preocupados, afinal Guilherme era um bom aluno e vê-lo a cada dia mais exausto e com as notas caindo chamava a atenção de todos negativamente.

- Vem cá, Guigui. - O puxei para o meu colo e o envolvi com meu casaco, acariciando os cabelos dele e o acolhendo da melhor forma que conseguia.

- Vai lanchar, Lu. - Sussurrou.

- Estou sem fome, Guinho. - Menti, mas realmente não queria deixá-lo sozinho. Nosso único momento juntos era na escola, mas nessas poucas horas ele vivia cansado e sonolento.

Se Guilherme soubesse o quanto eu fico preocupado com ele. Nem mesmo podia buscá-lo no trabalho, já que ele saía de noite e só chegava em casa perto das dez. Eram raras as vezes que a mamãe me deixava sair naquele horário.

Eu entendo totalmente as razões dele, afinal estava correndo atrás do sonho de poder fazer a cirurgia que o faria não precisar mais usar binders o apertando o dia inteiro, mas me doía ver os resultados de meses de trabalho duro e sem descanso no corpo cansado dele.

Até mesmo me esforcei junto dos meus pais nos últimos meses para conseguirmos atendimento no posto de saúde perto de casa, onde Gui finalmente pode receber o tratamento hormonal gratuito, depois de meses de muita dor de cabeça.

Alguns minutos se passaram e o professor de filosofia entrou e os alunos pouco a pouco encheram a sala.

O professor encarou Guilherme adormecido com um sorriso de compaixão, fazendo um pedido mudo para que eu o deixasse dormir.

Felizmente Gui teria folga no sábado e no domingo e hoje seria o último dia de trabalho da semana, o que significava que eu o teria por perto até segunda-feira, em que a semana cansativa iria reiniciar toda de novo, como se uma ampulheta fosse virada de ponta cabeça semanalmente, contando os dias para o pouco tempo de descanso do meu menino.

Naqueles meses eu passei a prestar bastante atenção nas matérias, não porque eu queria ser o melhor da turma ou ser paparicado pelos professores, mas porque eu queria conseguir ajudar Guilherme lhe passando os conteúdos e até mesmo as respostas durante as provas.

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