15 - Julho

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- Liberdade! Obrigado, meu Deus! - Saí pelo portão da escola e segurei a mão de Guilherme, o puxando comigo para corrermos em direção ao carro da mamãe.

- São só as férias do meio do ano, Lulu. Ainda temos um ano e meio de ensino médio pela frente, sabia? - Gui entrou no carro junto de mim no banco de trás.

- Não corta o meu barato, Guinho. Teremos duas semanas para ficar sossegados da cabeça. E ainda vamos viajar! Eu me sinto tão rico.

- Que empolgação. Estou vendo que estão muito tristes de ficarem duas semanas sem estudos. - Mamãe ironizou, finalmente dando a partida para sairmos da rua da escola. - Vocês ainda precisam arrumar as malas, já que vão sair amanhã de tarde.

- Eu nem faço ideia do que levar. - Tombei a cabeça para trás. - Por mim um short estava ótimo. Eu vou passar os dias na piscina mesmo.

- Piscina? Vai ter piscina, Lu? - Guilherme encolheu os ombros.

- Claro que vai. Você não gosta, pãozinho? - Entrelacei nossos dedos.

- Não é isso. - Ele suspirou. - E se perceberem que eu sou... Assim? - Gui tocou no próprio peito apertado pelo binder.

- Guigui, provavelmente não vai ter muita gente além de nós. E você pode entrar de binder ou de blusa. Se alguém te tratar mal é só a gente falar com o Fê. Sem falar que eu vou estar do seu lado o tempo todo, meu pãozinho.

Acariciei os cabelos dele, sorrindo abertamente quando ele deitou a cabeça em meu ombro, parecendo mais tranquilo após me ouvir.

Eu amo tanto esse menino que não mediria esforços para vê-lo sorrir. Jamais que eu vou deixar alguém maltratar Guilherme Min novamente.

- Isso é tão injusto. - Segurei a mão dele assim que chegamos na frente do mercadinho em que Gui trabalhava, impedindo que ele saísse do carro. - Não pode me deixar, Guinho! Já estou com saudade.

- Lulu, vamos viajar juntos amanhã. Se esqueceu?

- Amanhã é muito longe. Mamãe, ele pode dormir lá em casa hoje? Assim ele me ajuda a arrumar as malas e otimizamos o tempo!

Minha mãe riu da minha técnica, mas assentiu. - Você é muito espertinho, Luan.

- Quatro horas eu venho te buscar, moçoilo! - Beijei a bochecha dele e o apertei em um abraço. - Tchau, Guigui.

O observei entrar no mercado e mamãe saiu com o carro, seguindo para buscar o Miguelzinho e finalmente indo para casa.

Desde o momento que cheguei em casa as horas se passaram tão lentamente que aquele dia parecia eterno. Com a mala feita e refeita várias vezes eu contava os minutos para que desse quatro horas e eu pudesse buscar o meu menino no trabalho.

- Luan, você me acha bonito? - A porta do meu quarto foi aberta, revelando um Miguelzinho emburrado e abraçado ao seu cachorrinho amarelo de pelúcia que estava quase andando sozinho por aí de tanto que ele o carregava para todos os lados.

- Claro que acho, Miguelzinho. Mas por que isso do nada? - Tirei minha atenção dos vídeos aleatórios que eu assistia no celular para matar o tempo. - Aconteceu alguma coisa, meu bolinho?

Miguel se aproximou, subindo no meu colo e me abraçando.

- Luan, os meninos na escola falam que eu nem pareço um menino, porque eu não sou bom em futebol e não gosto das mesmas coisas que eles. A gente teve educação física e eles me obrigaram a ficar no grupo das meninas. Eu não quero que eles me vejam como uma menina, mas eu gosto tanto de brincar com as minhas bonecas e de usar rosa. Por que isso é errado?

Alinhamento Milenar (Taegi)Onde histórias criam vida. Descubra agora