Entro em um dos vários prédios do Sudoeste, em Brasília, e paro frente à porta de um dos quatro apartamentos do sexto andar. Respiro fundo a fim de manter as emoções sob controle, reunindo coragem para terminar logo o que vim fazer aqui e ir embora o mais rápido possível.
Sou capaz até mesmo de sentir a carta, que mudou tudo do dia para a noite, queimar no bolso de trás do meu jeans. Solto um suspiro e, finalmente, aperto a campainha.
Meu namorado franze o cenho, estranhando minha visita em um horário incomum. Fico nervosa, pensando no que estou prestes a fazer.
De nós dois, ele é o primeiro a se recompor. Eduardo me dá um abraço e um beijo, do qual me afasto rápido. Meu coração bate acelerado ao fazer isso.
— Aconteceu alguma coisa pra você vir aqui no meio da tarde, Nanda?
— Podemos conversar no seu quarto? — pergunto, aflita.
Eduardo entrelaça nossas mãos e dá um beijo delicado no dorso da minha. Não sei o que fiz para merecer um cara como ele, porque o Eduardo é a pessoa mais bondosa que já conheci em toda a minha vida. Além de me tratar como uma princesa. Quanto a mim, sou seu completo oposto.
Sou inescrupulosa e difícil de lidar já aos dezoito anos de idade. Só posso imaginar no que vou me transformar daqui algum tempo, quando eu for para o campo de trabalho e me tornar o tipo de advogada que defende bandidos com unhas e dentes, seguindo os passos do meu pai.
Verdade seja dita, meu namorado merece o tipo de mulher que eu jamais serei. Isso só soma para o que vim fazer aqui. Será difícil, mas é necessário.
Fui formada diretamente por um advogado maquiavélico e, desde que me entendo por gente, só tive um ano de liberdade — ou quase liberdade. Logo que a corda invisível do meu pai afrouxou no meu pescoço, conheci o Eduardo e, desde então, estamos juntos. Um namoro maravilhoso que me trouxe um sopro de ar fresco. Minha vida sempre foi pesada, cheia de obrigações. Mas, ao lado do meu namorado, consigo respirar. Ele é esse tipo de pessoa.
Acontece que a carta no bolso do meu jeans representa o nosso fim. O Eduardo a escondeu de mim e não posso aceitar essa situação de forma alguma. Acabou para a gente, mesmo que isso me doa até a alma.
Entro no seu quarto e admiro o mural cheio de fotografias tiradas por ele. Faço isso na intenção de gravar na mente uma das coisas que mais admiro nele, a paixão pelo seu trabalho de fotógrafo.
Meu coração aperta ao observar, pelo que bem pode ser a última vez, a porção de fotos que ele tirou de nós dois, e várias minhas sozinha posando para suas lentes como se fosse uma modelo consagrada. Algo que eu gostaria muito de fazer da vida, mas que meu pai jamais permitiria que acontecesse. Não. Serei advogada criminal como ele. Posar para o Eduardo foi apenas uma brincadeira de criança. Algo do qual gostei muito de fazer, mas que também acabou.
Meu namorado encosta a porta atrás de si e, quando me viro para encará-lo, seus ombros ficam tensos.
— O que está acontecendo? Seu pai te obrigou a fazer mais alguma coisa? Agora você é maior de idade. Muda de curso, amor...
Viro o rosto, incapaz de lidar com essa questão nesse momento, e encaro a cama pouco maior do que a de solteiro, onde demos vários amassos tantas e tantas vezes, mas nunca chegamos aos finalmente, porque, como já disse, sou uma pessoa bem difícil de lidar. Quanto ao Eduardo, ele é um homem bem paciente. Sempre que acabei tudo repentinamente, ele parou como se estivesse tudo bem quando, na verdade, nós dois sabíamos que ele estava altamente frustrado com minhas esquivas.
Eu dava a entender que estava brincando com ele, testando seu limite até o talo, mas a verdade é que eu só não tinha coragem de seguir adiante. Ele não sabia disso e nem nunca vai saber. Prefiro que continue achando que eu estava me fazendo de difícil de propósito, incitando um homem até perto da insanidade da reprimenda sexual para, então, finalmente o libertar do martírio da espera. Não é difícil chegar a essa conclusão a meu respeito, uma vez que eu seria fácil esse tipo de pessoa. Mas, nesse caso, sempre foi o medo falando mais alto mesmo.
