Fernanda
O advogado do meu pai veio hoje e dessa vez me recusei a falar com ele. Pedi para que ele insistisse com a minha mãe, afinal de contas, ela é adulta e a parte mais interessada nisso tudo. Eu já andei com as minhas próprias pernas e estou aqui apenas para ajudá-la, mas cansei de ter todo esse peso só nas minhas costas.
A minha mãe vai ter que sair da concha e aprender a lidar com as situações difíceis. Eu não vou mais a proteger e lidar eu mesma com as situações espinhosas. O que o meu pai tem é ela, não eu.
Vou jogar, sem dó nem piedade, a batata quente para a minha mãe, afinal, ela sempre foi condizente com todas as ações do meu pai, e então pensar no que vou fazer da minha vida. Obviamente que não vou virar as costas a ela. Se a minha mãe precisar de alguma coisa vou ajudar, mas é ajudar, não fazer por ela.
Quanto ao meu pai, ele que se exploda. Ele nunca se preocupou com o meu bem-estar. Sempre o que ele enxergou ao olhar para mim, era a perpetuação do seu legado. No segundo em que me libertei disso, ele nunca mais nem me ligou para saber se eu estava viva. Isso ninguém me contou, e nem precisa, mas sei que ele nunca perguntou para a Clara ou para a minha mãe se eu estava bem.
Que colha então os frutos que plantou!
Eu não tenho mais nada a ver com os negócios dele e só vim parar aqui no Brasil, porque o Logan me enxotou dos Estados Unidos e acabou com todos os meus recursos para que eu não voltasse. Além, também, do meu pai ter confiscado o meu passaporte.
Mas agora isso acabou. Tanto o plano do Logan, seja lá o que ele tramou, quanto o do meu pai, que está preso.
Recuperei o controle da minha vida e ninguém me toma mais.
Minha mãe faz o chilique do ano quando digo a ela que vou embora assim que encontrar um lugar para ficar e que a partir de agora toda e qualquer decisão quanto as questões pertinentes ao meu pai, são delas.
Cansada de ficar nessa casa que não está desmoronando fisicamente, mas está desmoronando, decido ir à exposição do Eduardo. A impressa já deu um tempo e se alguém me seguir, azar. Não vou ficar mais reclusa com medo do que pode acontecer. Nunca foi do meu feitio isso.
Visto um terninho e calça de alfaiataria vermelhos, uma blusinha preta por baixo, onde deixo à mostra somente a parte até um pouco abaixo dos seios, porque fecho o terno. Calço minha Louboutin de salto agulha, preto e com várias tirinhas transversais até o tornozelo, encoberto pela barra da calça. Faço um coque solto para deixar o look leve e uma make que realça meus olhos, mas que pareça natural.
Como da outra vez, meu nome está na lista na entrada da galeria. Entro e logo de cara um garçom me oferece uma taça de champanhe, que aceito. Ergo a cabeça e nem por um segundo questiono se alguém sabe quem sou, muito menos se tem alguém apontando o dedo na minha direção.
Caminho pelos corredores enquanto observo as fotografias do Eduardo. Imediatamente sei que todas elas são das suas últimas aventuras, porque conheço todas que vieram antes do nosso namoro e não há nenhuma delas aqui, expostas.
— Como eu queria ter a minha câmera fotográfica aqui comigo para tirar uma foto de você tomando champanhe. É de dar água na boca. — Às minhas costas, o Eduardo repete as mesmas palavras que me disse quando vim na sua exposição quando estávamos nos conhecendo.
Dessa vez, não fico sem palavras porque fico afetada por sua presença e sim porque eu deveria saber melhor. Tem sim segundas intenções no seu convite.
— Relaxa, Nanda — ele diz rapidamente quando me viro e vê que não gostei do seu comentário. — Foi uma brincadeira. O filme se repetiu na minha cabeça e não consegui evitar replicar aquela cena.
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