Fernanda
Kurt acha que a Lexi não volta. Ele também aluga o meu ouvido por uma hora para dizer que ela não é minha responsabilidade. Me pede para mudar de apartamento ou encontrar outra pessoa para dividir aqui comigo. E o que ele mais frisa é para eu não viver esperando por ela.
Eu sei que ele está certo até quando disse que tentamos ajudá-la e deu no que deu. Mas uma parte de mim ainda diz que posso ser a única âncora da Lexi e como vou conviver comigo mesma se eu desistir dela?
A campainha toca e penso que é ela. Pauso o vídeo que estou assistindo do desfile que Kurt ajudou a organizar e abro um filete da porta, poque se for ela, não sei em que estado ela vai estar.
Mas fico surpresa, porque não é ela e sim o Logan com uma garrafa de vinho em uma mão e umas sacolas na outra.
— Podemos ter aquela audiência de conciliação?
Fecho a porta para retirar as trancas.
Mesmo com a minha vida virada de ponta cabeça, não me esqueci da nossa baita briga. Mas eu estaria mentindo se não dissesse que estou absurdamente aliviada por ele ter aparecido na minha porta. Lembro das opções do Kurt, a, b ou c. Não é c e tanto a quanto b acabavam bem, então decido que Logan merece sua audiência de conciliação.
— Estou com um pequeno probleminha e preciso da sua ajuda — ele diz, entrando no meu apartamento.
— Você é muito cara de pau! — Fecho a porta e passo as trancas de novo.
— Prometo que você vai gostar.
— Estou esperando. — Cruzo os braços.
— Existe uma garota que tem um vício por calcinhas caras. Quando ela me confessou isso, pensei que fosse caro, mas não pensei que fosse um absurdo! — Mordo o lábio para não rir, porque eu não posso rir enquanto ainda estou magoada com ele. — Da última vez em que nos vimos, fiquei com um saldo negativo com ela de duas calcinhas. Como sempre pago minhas dívidas, fui comprar as benditas que roubei e rasguei. E foi aí que entrei em uma sinuca de bico. Com tanta variedade, eu não conseguia me decidir por só duas peças, mas se eu comprasse várias, eu correria o risco dela fechar a porta na minha cara e acabar com a minha audiência de reconciliação. Pensei comigo mesmo, vou levar essas várias opções e procurar alguém para me ajudar a escolher quais duas eu dou a ela. E é aqui onde você entra. Preciso de uma modelo profissional para escolher as duas melhores calcinhas para quitar minha dívida com a garota de olhos e garras de felino.
Logan e eu nos encaramos em silêncio por alguns segundos. Respiro fundo e entro no seu jogo.
— E o vestido? Acho que você rasgou um vestido também.
Logan solta um suspiro e então abre um sorriso enorme.
— A questão é que não quero incentivar que ela fique muito vestida perto de mim. Entende?
— E o vinho?
— Para apreciar o seu desfile, claro. — Ele coloca o vinho e as sacolas em cima da bancada da cozinha e então se volta para mim. — Eu sinto muito, babe. Nem por um segundo passou pela minha cabeça como você receberia aquilo. Eu só quis te presentear com algo que me fez lembrar de você.
Ele não espera por uma resposta, porque se vira e vai para a cozinha. Logan abre as portas dos armários e as gavetas. Fico aliviada por eu ter reposto as coisas que a Lexi quebrou. Já basta ter Logan Spencer no meu apartamento, agora ter o Logan Spencer no meu apartamento quebrado, eu me sentiria humilhada.
— Faz de conta que a casa é sua — digo bem quando ele acha as taças.
— Por favor, me diz que você tem um saca-rolhas!
— Segunda gaveta à sua direita.
Ele encontra o saca-rolha, abre o vinho e enche as taças. Logan me estende uma delas, seus olhos me observando atentamente o tempo todo.
— Que horas começa o show?
— Para uma adolescente imatura, até que sou muito procurada por você.
Faço menção de pegar a taça que ele me oferece, mas ele a coloca sobre a bancada, junto com a dele. Logan segura meus pulsos e me puxa para dentro dos seus braços.
— Você é uma adolescente muito inteligente, sagaz e gostosa, combinação perfeita para mim. — Ele segura meu queixo delicadamente e ergue o meu rosto enquanto olha fundo nos meus olhos. — Eu sinto muito, babe. Se eu tivesse escolhido qualquer outro momento para te dar aquele presente estaríamos bem, não estaríamos?
— Precisamos esclarecer algumas coisas.
— Não esperava menos de você. — Ele desliza os dedos por uma mecha do meu cabelo.
— Não sou sua acompanhante de luxo.
— Não mesmo.
— Não sou sua amante.
— Não mesmo.
— Não sou sua. — Logan paralisa o carinho. — Não me compre presentes caros que custam uma fortuna, por favor.
— Então o que você é minha? Além de noiva, claro.
— Noiva de mentira. Talvez sejamos amigos coloridos? Amigos que adoram entrar em embates verbais para ver quem ganha e que possuem muita química? Não sei, Logan. Como geralmente são os seus relacionamentos?
Logan me observa com cuidado e por um tempinho.
— Casos. — Ele engole em seco. — Quando uma das partes cansa, cada um vai para o seu canto sem ressentimentos. Mas só aceito exclusividade.
— Mas aí passa de algo casual para algo sério, não?
— Eu não divido com ninguém, Fernanda. Mas você está tentando me dizer quer ter um... caso comigo? — ele pergunta, sem muita emoção.
— Se é assim que funciona. Mas a questão da exclusividade quero que seja válida para os dois lados.
— Justo. — Ele sorri, mas não me parece muito contente. Logan se afasta e pega as taças de novo. Ele me entrega uma e estende a que segura no ar. — Um brinde às amigas adolescentes gostosas.
— Um brinde aos cafajestes. — Bato a borda da minha taça de leve na dele.
— E o cafajeste aqui vai ganhar um desfile da amiga adolescente gostosa? — ele pergunta depois de dar um gole.
— Claro! Eu amo calcinhas caras e desfilar. Não posso negar uma ajuda dessas a um amigo, posso?
Ele segura minha nuca e me puxa até que seus lábios devorem os meus. Quando preciso de ar para continuar viva, ele se afasta.
— Aqui. — Ele pega as sacolas e me estende. — Vou me sentar no sofá enquanto te espero vestir no quarto.
Fico estática segurando as sacolas contra o peito enquanto Logan, vestindo suas usais camisas sociais com abotoadoras no punho, se ajeita no meu sofá puído de forma confortável. Ele descansa o calcanhar na perna, apoia ambos os cotovelos no encosto e me encara de volta.
Pelo menos ele não agiu como a minha mãe, o que soma pontos a seu favor comigo. Ela não conseguiu esconder o desgosto pelo sofá, e quando se sentou nele, ficou na pontinha como se temesse que uma pulga pulasse nela. Logan não. Embora ele já usou o lugar onde moro como um argumento contra mim, é ele quem não olhou para nada com desdém.
— Babe, a qualquer hora que você quiser eu estou pronto.
Sorrio e ele pisca para mim.
— Quer colocar uma música?
— Caramba! Quase que esqueço.
— Quase não. Você se esqueceu e se lembrou com a minha pergunta.
— Concordo, meritíssima. — Ele sorri.
Logan procura por seu celular no bolso e quando o encontra, coloca "When I'm Small" do Phantogran, uma ótima escolha para um desfile, o que por sua vez me faz pensar que Logan planejou essa "audiência de reconciliação" mais de uma vez.
Diminuo a intensidade da luz e vou para o quarto me aprontar para entregá-lo o que ele veio até aqui buscar, e que eu queria que ele viesse pegar.