Capítulo 4

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Fernanda

O apartamento da minha família em Nova York está do mesmo jeito que me recordo da última vez em que estive aqui. Meu pai o comprou para a minha mãe, um dos únicos gestos de carinho que vi entre eles. Minha mãe é americana e às vezes sente falta daqui, seu país. Para que ela tivesse sempre um lugar dela para onde voltar, ele comprou este lugar.

Pensando bem, talvez ele tenha feito isso mais para ele do que para ela, uma vez que está maquinando para fundir a Bastos com a Spencer. De qualquer forma, seja lá quais foram as tramoias do meu pai, fato é: prefiro ficar no apartamento que tem vários toques da minha mãe do que em qualquer hotel cinco estrelas.

Tenho uma semana até entrar totalmente em território inimigo — foi o tempo que me deram para que eu me ajeitasse na minha mais nova vida. Tempo suficiente para que eu comece a procurar o que realmente quero fazer aqui na Big Apple.

Meu telefone toca e é a Renata fazendo ligação de vídeo chamada. Ela é a única pessoa confiável que me restou desde que minha vida virou do avesso. Nem mesmo na Clara eu posso confiar, porque acho que ela me dedura para a minha mãe sim. Então, se não fosse pela Renata, me restaria apenas as paredes desse apartamento para conversar sem precisar pesar antes cada palavra que sai da minha boca.

— Oi, Nanda! — Renata coloca muita alegria na voz e imediatamente sei que tem algo errado.

— O que aconteceu? — Seguro o celular com mais força.

— Você está bem? Já está instalada no apartamento dos seus pais?

— Está tudo dentro do esperado. Mas para de enrolação, Rê.

— Bem, eu tenho duas notícias, uma boa e uma ruim. Qual você quer ouvir primeiro?

— Ruim.

— Vou falar a boa — ela diz rapidamente. — Depois de ouvir a ruim acho difícil você continuar me escutando.

— Renata, você está me preocupando...

— Eu mandei uma das várias fotografias que o Eduardo tirou de você... — A simples menção ao nome do meu ex é suficiente para me fazer encolher os ombros. — Desculpa, Nanda. O nome saiu sem querer. Enfim, as enviei para uma das maiores revistas de Nova York ou, melhor, do mundo. Na verdade, mandei várias fotografias para várias revistas daí...

— Tá e aí? — Interrompo seu monólogo para que vá aos finalmente.

Infelizmente, minha amiga é o tipo de pessoa que é preciso cortar para que vá direto ao ponto. Ela faz vários rodeios até chegar no assunto central, o que é bem irritante.

— E aí que você não vai acreditar no que aconteceu! Sei que você está desanimada, porque não conseguiu nenhum trabalho digno nas agências de modelo que tentou aí, mas agora nós temos que comemorar...

— Fala logo, Renata! Para de fazer suspense.

— Essa revista amou a sua fotografia! E olha que eu nem pensei que mandar fotos para revistas daria certo. Pensei que só agências que contratavam modelos. E, você não sabe, mandei só uma foto...

— Rê.

— Desculpa. Enfim, eles acabaram de me ligar para marcar uma entrevista. Parece que você tem o perfil que eles estavam procurando para fotografar uma nova coleção que sairá na próxima edição.

— Jura? — Meus dedos tremem ao redor do aparelho.

— Juro! — Renata solta um gritinho de empolgação.

— Renata, eu te amo! Nem acredito que você fez isso por mim. Eu não consegui nada durante toda essa semana e já estava entrando em desespero.

— Eu sei, eu sei. Sou demais. Passei seu contato para eles e um tal de Kurt Tumer vai te ligar para marcar um local para vocês se encontrarem.

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