Através da janela do jatinho particular do Logan, vejo Brasília ficar cada vez menor. Solto um suspiro com um misto de saudade e alívio. Me mudar para Nova York não estava nos meus planos, mas até que veio a calhar.
Minha mãe estava certa e estou simplesmente cansada de ficar rodeada pelas memórias que construí com o Eduardo. Vai ser mesmo melhor recomeçar em uma cidade totalmente nova e que não está entranhada com memórias felizes do nosso namoro.
Tudo o que mais quero é que ele, algum dia, me perdoe pelo que fiz e que seja feliz com a carreira de fotógrafo. Toco no vidro e me despeço da minha antiga vida.
A aeronave é bem luxuosa, com as paredes brancas em detalhes de madeira e oito poltronas reclináveis de couro branco, muito confortáveis. Dentre todas essas opções de assento, Logan escolheu se sentar bem na minha frente. Pelo menos tem uma mesinha entre nós dois e ele está concentrado em seu notebook.
Viro de lado e fecho os olhos. Gostaria de ser capaz de dormir, mas não consigo. No entanto, fico tanto tempo parada na mesma posição que a aeromoça acredita que cochilei, uma vez que coloca uma manta macia sobre os meus ombros.
Percebo que os toques nas teclas do notebook cessam e sinto uma leve trepidação no ar. Abro os olhos e olho diretamente para o Logan, que aproveitou da minha falsa inconsciência para me estudar.
— Difícil me definir? — pergunto e ele nem mesmo pisca, ou dá sinais de desconforto por ter sido pego no flagra.
— Já te defini.
— Sei. — Arqueio uma sobrancelha. — Então por que volta e meia você me analisa?
— Meu palpite é que você sabe que as pessoas te observam mais do que o normal. Há um certo magnetismo na sua aparência.
Meus olhos se enchem de lágrimas e fecho-os rapidamente enquanto viro ainda mais para o lado. O Eduardo me apontou isso. Segundo ele, mesmo as pessoas que não gostavam de mim não conseguiam se afastar, porque elas amavam me detestar. Mas o Eduardo foi o primeiro a só me amar.
— O que no meu comentário te abalou? — Logan pergunta, nada polido.
— Não precisa fingir que se importa. — Viro o rosto para ele. — Sei que foi você quem persuadiu o meu pai pra que eu me mudasse para NY.
Ele relaxa em sua poltrona, como se estivesse tendo uma conversa divertida. Nada abalado com minha ferocidade.
— Persuadir o seu pai? Você sabe muito bem que ninguém diz ao seu pai o que fazer.
— E eu sei muito bem que a última coisa que o meu pai faria era me mandar para outro país, para fora das vistas dele, porque o controle dele sobre mim será limitado e há um grande risco de que eu desvie dos seus planos. Você ia embora ontem, mas está indo hoje porque decidiu esperar que eles me tirassem da casa da minha amiga até me convencerem a embarcar. Logo, estou me mudando para outro país por sua causa. A questão é, por quê?
— Vejo a excelente advogada que você irá se tornar. Ouso até dizer que será melhor que o seu pai jamais foi algum dia.
Suas palavras em forma de elogio me descem como veneno, porque me faz lembrar que voltei à estaca zero, sem nenhum tipo de controle sobre a minha vida, obrigada a fazer o que o meu pai quer.
Terminar com o Eduardo, a princípio, me anestesiou, então meu pai se aproveitou do meu momento de fraqueza e me coagiu até que eu fosse trabalhar na Bastos. Qual é? Ele é o melhor advogado criminal do país. Ele lida com a elite da política e o mais alto nível da bandidagem. Se o meu pai consegue persuadir juízes a inocentarem transgressores da lei, imagina o poder de persuasão que ele tem sobre mim? Não tem nem palavra que defina isso. Mas quando veio essa questão de Nova York, percebi que se fui forte para que o Eduardo seguisse com o sonho dele, eu deveria ser forte para fazer o mesmo por mim.
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