Capítulo 15

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Entro no meu apartamento empurrando minha mala. A sensação é de estar em um dejá-vu. Vou ter praticamente o mesmo trabalho de arrumar o meu quarto, quando conseguir trazer todas minhas roupas que continuaram na casa do Logan, do que quando me mudei para cá.

O que me mostra que não estou vivendo uma realidade que já vivi é que meu minúsculo apartamento virou uma bagunça de copos de plástico, latas de cervejas vazias, roupas e sapatos espalhados pelo chão. Lexi está apagada no sofá, que era simples, mas não tinha todas essas manchas estranhas que agora está disperso por todo o estofado.

Mesmo espantada com a bagunça, pego um cobertor para cobrir a Lexi, que parece ter emagrecido uns dez quilos e isso é muito, porque ela já era mais magra do que eu. Será que ela não se tocou de que passou a época de modelos andrógenas? É nisso que estou pensando quando noto um pó branco espalhado na mesinha do centro e uns canudinhos de papel.

— Lexi! — Sacudo seus ombros. — Acorda!

Desesperada, a chacoalho até acordá-la. 

Eu sabia que ela usava drogas de vez em quando, mas o mais pesado que ela já usou, que eu saiba e o Kurt também, foi ecstasy. Esse pó branco é outra história.

Nesses últimos meses, vi muitas meninas entrarem nesse mundo da moda e se tornarem dependentes químicas. Até agora, o final que vi foi sempre o mesmo, vício e então fim da carreira. E agora me toco de que talvez Lexi esteja se prostituindo não em troca de trabalhos, como supus durante todo esse tempo, e sim para sustentar um vício.

O negócio é que tem muita oferta disso nessas festas que temos que frequentar. Não uma, mas milhares de vezes, recebi propostas onde me prometiam um bom trabalho. Mas eu sei muito bem qual é o meu valor, que tipo de coisa aceito e que tipo de coisa repugno imediatamente. Eu não vendo o meu corpo para conseguir mais trabalhos, e menos ainda faço uso de drogas.

— F.? — ela me chama, confusa e grogue, totalmente fora de si. — Você ficou meses fora. Pensei que tinha se mudado de verdade e me abandonado.

— Lexi, que merda é essa?! — Estou colérica enquanto aponto para a mesa.

— Eu estou gorda... — Sua voz soa enevoada, como se ela nem soubesse que está conversando comigo.

— Lexi?

— F.! Você voltou!

— Isso é cocaína ou heroína?

Torço para que seja cocaína. Nossa, em que ponto as coisas chegaram para eu pensar em escolher uma droga menos pior do que a outra? Se é que isso existe. A verdade é que qualquer uma das duas podem levar Lexi para o fundo do poço.

— F., você tem dez quilos a mais que eu e consegue trabalho! Eu...

Ignoro que ela disse na cara dura que estou gorda, porque sei que ela está chapada e sem noção alguma da realidade.

— Dorme, Lexi. Amanhã a gente conversa.

— Seu rosto F. — Ela toca meu rosto enquanto coloco uma almofada sob sua cabeça e a ajeito. — Tão lindo e expressivo. Eu queria seu rosto.

— Você também é linda, Lexi. Dorme. Vou cuidar de você.

Ela fecha os olhos e então adormece. Não sei se fico tranquila não.

Arrumo o apartamento madrugada adentro, mesmo sabendo que deveria ir me deitar porque amanhã tenho um ensaio. Já vai ser ruim o suficiente chegar toda marcada, acrescentar olheiras será a cereja no topo do bolo. Mas estou pilhada de preocupação com a Lexi.

Quando a sala fica um trinco, sento no chão com as costas encostadas no sofá enquanto Lexi dorme um sono pesado. Ligo a TV no volume baixo e nem percebo quando adormeço. Acordo com a claridade que a cortina não é capaz de conter. Quando me viro, Lexi está acordada e me olhando como se quisesse morrer.

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