45: Torre III

135 12 18
                                    

Christine

Eu estava na sala, passando de um canal para o outro quando minha monótona atividade noturna foi interrompida.

— Nada mal, eu achei que você tinha prendido a garota numa gruta. — Eu encarei Spencer sem acreditar. Passado os segundos de descrença, eu levantei rapidamente e pulei o abraçando, Spencer ficou um pouco surpreso, mas retribuiu o abraço. — Que recepção calorosa, eu achei que você me odiasse.

Eu não odiava, mas claro que também não o adorava. Além de estar a semanas sem ver qualquer outra pessoa, qualquer mínima chance de pedir ajuda me é bem vinda, então sim, eu estou feliz por ver Spencer.

Pude notar Jeffrey me fuzilar com o olhar, todo esse tempo eu venho tentando feri-lo de alguma forma e agora, de forma totalmente despretensiosa eu consegui. Ele baixou o capuz do moletom que usava e cruzou os braços. Spencer com certeza estava sendo jurado de morte.

— Me ajuda, por favor. — Eu sussurrei para Spencer.

— Se você não me soltar, estarei tão ferrado quanto você, ele vai querer me matar. — Eu finalmente o soltei.

— Era pra isso que você insistiu tanto em ver ela? Não sabia que vocês eram tão amigos.

— Eu achei que você tinha deixado a garota em paz. — Ele se dirigiu a mim. — Eu não sabia que ele tinha feito isso.

— Eu o trouxe aqui porque ela pediu, mas não é como se você tivesse algo haver com isso. — Jeffrey manteve uma postura séria e ameaçadora. — Ou pudesse fazer algo, não é?

Eu engoli em seco.

— A vida é sua. — Spencer deu de ombros. — Mas tem certeza que vai continuar com isso? Se isso for pelo garoto, aposto que ela não terá problema nenhum em deixar você ver ele, era só ter conversado.

— Não era isso que ele queria, ele matou Damon.

Spencer não parecia surpreendido, sua expressão estava mais para o desgosto. Ele massageou as têmporas e suspirou.

— Deixa a garota voltar pra casa homem, ela não vai para o outro lado do mundo. Ela volta pra casa, não conta nada pra ninguém e fica tudo certo. — Jeffrey revirou os olhos. — Entenda que com isso você só está a fazendo infeliz.

Contrariado, ele deu as costas, saiu como se não houvesse ninguém na sala. Eu encarei Spencer.

— Você não tem medo dele? — O maior negou.

— Quando você entende exatamente o que o demônio quer, fica mais fácil alimentá-lo e mantê-lo sob rédea. Já me acostumei a esse indivíduo agourento. — Mesmo não tendo motivos para rir, eu ri. — Não sei se te acho especial ou muito azarada.

— Você não vai me ajudar, não é?

Spencer desviou o olhar.

— Bem... não é como se eu não tivesse avisado a você que ficar com ele lhe traria consequências. — Eu senti a desesperança me atingir. — Mas eu posso saber como sua mãe está e se você quiser, levo até ela algum recado seu.

Eu quase não acreditei. Spencer não queria, de forma direta, contrariar Jeffrey. Não sei quais motivos o levam a ser tão compreensível com ele e nem quero saber, mas isso me intriga.

— Eu vi como ele agiu com o próprio irmão, ele matou a própria família. Por que ele confia em você?

Spencer pensou por alguns segundos.

— Eu vi seu pior lado e aceitei isso. Eu ofereci a ele uma oportunidade de lidar com seus impulsos sem mudar sua essência destrutiva. Acho que no fundo nós temos muito em comum. — Spencer passou a mão pelos cabelos. — Ou pode ser apenas por que ainda sou útil para ele.

Meu Pesadelo (Concluida)Onde histórias criam vida. Descubra agora