Capítulo 66

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Cavalgamos o javali até o pôr do sol, que era o máximo que meu traseiro podia suportar. Não tenho a menor ideia da extensão que cobrimos, mas as montanhas desapareceram na distância e foram substituídas por quilômetros de terra plana e seca.

A grama e os arbustos foram ficando mais esparsos até que estávamos galopando pelo deserto. Quando a noite caiu, o javali parou no leito de um riacho e resfolegou. Ele começou a beber a água lamacenta, então arrancou um cacto do chão e o mastigou, com espinhos e tudo.

- Aqui é o mais longe que ele irá.- disse Noah.- Precisamos descer enquanto ele está comendo.

Nem foi preciso dizer duas vezes. Deslizamos pelas costas do javali enquanto ele estava ocupado, arrancando cactos. Não demorou e o javali tornou a galopar de volta ao leste.

- Acho que ele prefere as montanhas.- avaliei. Uma poeira extensa o acompanhava.

- Não posso culpá-lo por isso.- disse Sofya.- Vejam!

À nossa frente havia uma estrada de duas pistas quase coberta de areia. Do outro lado da estrada, via-se um grupo de construções pequeno demais para ser uma cidade. Uma casa fechada por tábuas, uma lanchonete mexicana que parecia não ser aberta a décadas, e uma agência caindo aos pedaços. Além dessas construções, via-se uma série de morros, mas então percebi que não eram morros normais.

A região era plana demais para eles, os morros eram montes enormes de carros e aparelhos velhos, e outras sucatas de metal. Era um ferro-velho que parecia não ter fim.

- Nossa! - exclamei.

- Alguma coisa me diz que não vamos encontrar uma agência de aluguel de carros por aqui.- disse Sofya. Ela olhou para Noah.- Não creio que você tenha outro javali gigante na manga, certo?

Noah farejava o vento, parecendo nervoso. Ele pegou suas folhas de carvalho e as atirou na areia, então tocou a flauta. As folhas flutuaram em um padrão que não fazia o menor sentido para mim, mas Urrea pareceu preocupado.

- As cinco folhas nos representa.- falou, apontando com queixo.

- Qual delas sou eu? - perguntei.

- A pequena deformada.- sugeriu Zoe. Mostrei-lhe o dedo do meio e Sofya gargalhou.

- Onde estão seus modos, garota? - um sorriso debochado brincou nos lábios da caçadora.

- Eu enfiei na bun--

- Okay, continuando..- Noah cortou-me. Bufei.- Aquele grupo ali adiante.- apontou para a esquerda onde um amontoado de folhas flutuaram sem sincronia.- Significa problema.

- Um monstro? - perguntou Sofya, Noah pareceu agitado.

- Não farejo nada, o que não faz sentido, mas as folhas não mentem, nosso próximo desafio...- ele apontou para o ferro-velho, com a luz do sol quase totalmente extinta agora, o deixava com uma aparência sinistra.

- Acho melhor montarmos um acampamento bem aqui.- disse Mélanie.- Não parece seguro atravessar agora.

- Acho que você tem razão.- Zoe concordou.- Vamos montar as barracas.


[...]


A noite esfriou rapidamente, então Noah e eu recolhemos velhas tábuas nas casas em ruínas, e Sofya os eletrocutou com raio, fazendo-os pegar fogo, transformando-os em uma fogueira. Ainda não conseguia entender como ela conseguia fazer isso, tipo, como ela conseguia usar a benção de Zeus tão facilmente assim e ainda se sentir confortável com isso, enquanto eu, não podia sequer cogitar pisar em um avião sem sentir que seria explodida antes mesmo dele alçar vôo. Logo estávamos tão confortáveis quanto se pode estar em uma cidade fantasma arruinada, no meio do nada.

A filha de Poseidon | SiyoonOnde histórias criam vida. Descubra agora