Capítulo II - Miserable Swan 🥀

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Stone Cold

Ouvir o anúncio do embarque foi como um rompimento inédito, um suspiro de esperança em meio à tormenta emocional que me consumia. A sensação de estar prestes a escapar dessa prisão insuportável fez meu coração bater com uma antecipação ansiosa e descontrolada. O ar no terminal estava pesado, carregado de vozes apressadas e a pressa típica de quem está prestes a partir. Mas, para mim, cada palavra daquele anúncio ecoava como um hino de liberdade, uma promessa de que eu poderia finalmente deixar para trás o tormento que me acompanhava.

- Phil, as passagens - ordena Renee com uma frieza cortante que não deixa espaço para dúvidas. Sua expressão é de desdém, como se eu fosse apenas um obstáculo em seu caminho. Phil, com seu sorriso sarcástico, estende as passagens para mim, mas não antes de brincar cruelmente, erguendo-as quando tento pegá-las, rindo da minha angústia. A humilhação que sinto é intensa, como se cada risada dele fosse uma facada em meu peito.

- Calma, gatinha, estou só brincando - diz ele, seu sorriso cruel e o tom de zombaria apenas aumentando o peso que me oprime. Finalmente, ele entrega-me as passagens, mas o gosto amargo da sua crueldade persiste, grudando em minha boca como uma lembrança indesejada.

Me afasto dos dois, ajeito as mangas do meu casaco e, com uma decisão firme e amarga, digo um curto e rápido "Adeus". Cada letra da palavra parece um eco de libertação, mas a dor de deixar algo para trás, mesmo que doloroso, me faz hesitar. Viro-me e ando rapidamente, como se estivesse me afastando não apenas fisicamente, mas também emocionalmente. O terminal se transforma em um borrão enquanto sigo em direção ao portão, o peso do meu fardo se tornando um pouco mais leve a cada passo.

Sentada na poltrona do avião, a sensação de estar finalmente longe de todo o sofrimento é uma confusão de colapso e dor crua. O espaço é pequeno e apertado, os assentos enfileirados em um padrão que parece refletir a claustrofobia que sinto em minha vida. Minhas lágrimas caem sem parar, uma emoção conflitante que mistura alívio e desespero. Sinto um profundo desprezo por Phil, por Renee e, de forma dolorosa, por mim mesma. A luta interna que travo é exaustiva, e cada respiração me lembra das batalhas que deixei para trás.

- Como ela pode deixar que isso acontecesse comigo? - Minha mente grita em tormento. - Por que ela nunca me defendeu? Como pude alguma vez duvidar de mim mesma? Eles abusaram de mim... os dois.

Meu cérebro está em um turbilhão, meu coração batendo descontroladamente, e eu me sinto como se estivesse hiperventilando. Era uma sensação esmagadora, como se meu corpo estivesse prestes a se desintegrar a qualquer momento. O sentimento de morte parecia pairar sobre mim, um presságio sombrio ameaçando me consumir. O barulho do avião se torna um ruído distante, e tudo o que consigo ouvir é o eco das minhas próprias emoções.

Cada respiração é um esforço agonizante; meu peito aberto, uma mistura intensa de medo, revolta e desespero tomando conta de mim. A sensação de despersonalização é esmagadora, como se eu estivesse presente em minha própria vida de fora, impotente e incapaz de escapar dessa cruel realidade.

No entanto, um momento de quebra ocorre quando uma senhora se aproxima.

- Com licença, querida, posso me sentar ao seu lado? - pergunta ela, sua voz suave como um bálsamo em meio ao caos. Seu rosto expressa uma preocupação genuína, e seus olhos transmitem um calor acolhedor que eu não esperava encontrar. Ela tem uma franjinha engraçada e parece estar na casa dos trinta, com um sorriso que irradia empatia.

Apenas afirmo com a cabeça, enquanto limpo os olhos com as mangas do meu casaco, tentando me esconder o máximo possível, como se pudesse desaparecer diante do olhar penetrante dela. Seu olhar é intenso, mas não condenatório; é como se ela pudesse ver através da minha máscara de indiferença.

Miserable Swan (BLOOD MOON)Onde histórias criam vida. Descubra agora