Incompatível

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Boa leitura, pessoas!

Carol

Estava há quinze minutos olhando fixamente para a tela à sua frente. O relatório permanecia há dias preso no mesmo parágrafo; era a última coisa em que ela conseguia pensar. Pesquisa, dados, aulas, tudo ficava em segundo plano desde os últimos acontecimentos. Embora Carol prezasse muito pela sua carreira, esta parecia insignificante diante dos inúmeros pensamentos sobre sua vida pessoal. Ela nunca sentira tanto medo em toda sua vida. Aquilo a paralisava, e um frio subia pela espinha toda vez que pensava nos possíveis fatores que levaram àquele erro.

Os últimos cinco dias desde os testes no seu laboratório passaram como um borrão. Não lembrava de outra vez em que tivesse levado a vida tão no automático. As implicações de tudo aquilo faziam a cabeça de Carol girar; não conseguia entender como tudo desmoronara tão rápido. Ao ouvir o toque do celular, a mulher despertou de seu transe. Olhou mais uma vez para o relatório à sua frente e pensou em como Wanda se frustraria novamente se ela decidisse pedir que estendesse o prazo de entrega. Suspirando, a médica finalmente pegou o aparelho que insistia em tocar e sentiu-se como se levasse um choque ao ler o nome que aparecia na tela: Clínica do Carmo. Carol sentiu suas mãos tremerem ao atender, e a voz falhou na sua tentativa de dizer alô.

— Olá, bom dia, Dra. Soffredini. Aqui é da Clínica do Carmo. Estamos ligando para comunicar que os resultados dos exames solicitados pela senhora estão prontos — a atendente falava de uma vez só, enquanto Carol tentava a todo custo prestar atenção. — Geralmente, disponibilizamos o resultado em nosso site para acessá-los com seu login e senha, mas, no seu caso, a Dra. Capello pediu que a senhora comparecesse ao consultório. A senhora teria disponibilidade para vir até aqui?

Aquilo rapidamente chamou a atenção de Carol, que logo tratou de encontrar a voz para responder:

— Claro, estou disponível. Estarei aí em 30 minutos.

A atendente finalizou a ligação, deixando Carol atordoada, pensando nas implicações daquelas palavras. A médica pediu para ela ir até lá saber os resultados; isso não parecia simples, não parecia que ela diria que foi um erro bobo, que de alguma forma erraram a tipagem sanguínea de Ana Luiza.

Depois daquele dia no laboratório, Carol ligou para Murilo para contar o ocorrido. Ele ficou tão transtornado quanto ela e decidiram ir no dia seguinte fazer exames mais específicos. Quando chegaram à Clínica do Hospital Nossa Senhora do Carmo — o mesmo onde Ana Luiza nasceu — pareciam calmos. Ana Luiza os acompanhava sem saber das batalhas que sua mãe estava travando internamente até ali. Conversaram com a médica, explicaram a inconsistência dos testes que fizeram e questionaram como poderiam proceder dali em diante. A médica, Dra. Clara Capello, os ouviu atentamente e os aconselhou a fazer exames de sangue que pudessem determinar a compatibilidade sanguínea entre os pais e a filha.

Ana Carolina nunca se sentira tão pequena e exposta em um ambiente hospitalar antes. Aqueles pequenos frascos de sangue iriam gerar efeitos diversos para sua vida e a de sua filha. Sentia como se, ao cruzar aquela linha, nada voltaria a ser como antes. Depois da coleta, a Dra. Capello lhes deu o prazo para o resultado dos exames e garantiu que acompanharia de perto a procedência do caso.

Murilo e Ana Luiza não paravam de falar no caminho de casa, teorizando sobre a raridade do caso. Mas Carol só conseguia pensar que poucas coisas boas poderiam sair bem dessa situação.

............

Carol, Murilo e Ana Luiza chegaram à Clínica do Carmo poucos minutos antes do horário marcado. O ambiente estava silencioso, apenas o som distante de vozes e telefones ecoando pelos corredores. Carol sentia o peso da ansiedade no ar, refletido nas expressões tensas de Murilo e na postura reservada de Ana Luiza, que compreendia a gravidade do momento.

Ligadas pelo amor - NarolOnde histórias criam vida. Descubra agora