Capítulo 44

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Não faço o tipo de pessoa que tem dias produtivos.

Eu não bebo café de manhã, não passo horas na academia, não leio livros e muito menos tenho momentos de autoconhecimento em minha companhia.

Mas nessa manhã eu saí pra correr, talvez por estar entediada.

Cuidar das redes do cobra Kai me mantinha entretida, eu não precisava me preocupar com coisas tipo faculdade e pagar a faculdade, nem tinha que me esforçar para ser legal e conseguir amigos.

Eu não tinha tempo para nada, nem para pensar, mas agora sinto que não posso deixar de fazer isso.

Pensar em como deixei de lado os estudos de teatro, como não fiquei mais de 30 minutos em ligação com meu pai ou em como não fui ao salão com a mamãe nos últimos meses para um dos nossos momentos.

Senti o suor escorrer pelo meu rosto quando meu corpo escorregou para o banco de madeira, respirei fundo sentindo o sol que começa a esquentar batendo contra minha pele.

À minha frente mães passeiam com seus filhos, bolinhas são jogadas aos cãezinhos e algumas pessoas se destroem sorrindo enquanto andam com patins.

Todas parecem felizes em fazer isso às sete da manhã.

Me sinto péssima por estar tão cansada após alguns minutos correndo.

— Se está evitando um lugar não deveria estar tão próxima — Eu reconheceria a voz do sensei Kreese a quilômetros, infelizmente não tinha todo esse espaço para correr.

— Não estou evitando nenhum lugar.

— Sabe, senhorita Juts, eu não gosto de redes sociais. O cobra Kai sempre teve muitos alunos — Na sua época — Mas parece que essa sua tecnologia nos eleva o nível, então acho que podemos ter um acordo bom para os dois lados sobre isso.

— Posso passar o acesso às redes, não vai ser difícil pra vocês ameaçarem ou baterem em alguém para cuidar disso.

Não ousei me virar para ele, ainda mantinha meus olhos nas crianças correndo.

— Admito que a senhorita faz um bom trabalho, tenho certeza que vai ser vantajoso retornar a esse trabalho.

— Não é um trabalho, Johnny só me paga com traumas — Sequei a testa com as costas de minha mão esquerda — Se bem que você ou melhor, o senhor,  me deu um trauma extra, me sinto honrada em ter medo do que vocês são capazes.

— Dos meus alunos a maior parte é agora homens bens sucedidos, alguns mais que outros — Mais que o sensei Lawrence não é difícil — Um deles reside em Nova York, soube que se casou com uma das recrutadoras da universidade de Nova York inclusive.

O olhei de canto de olho, mas logo desviei, ele permanece de pé ao lado do banco.

— E o que tem haver?

— Você não é uma fracassada, senhorita Juts, só está escolhendo ficar do lado perdedor.

Me virei agora para encará-lo.

— E qual é o lado vencedor, sensei Kreese?

— O lado vencedor é o meu.

Sua voz soou séria e um arrepio passou por meu corpo temendo o que aquilo queria dizer.

— Pensei que não fosse ficar, o sensei Lawrence disse que você não ia.

— Eu sou o Cobra Kai então preciso que você escolha logo o seu lado — Ele se abaixou um pouco e eu lutei para não me encolher — Só não se esqueça que a mesma pessoa que recomenda pode acabar com as suas chances.

No minuto seguinte ele se foi, com passos firmes e decididos em direção ao Dojo.

Precisei de algum tempo parada o encarando sumir de minhas vistas enquanto tentava entender.

Ele acaba de ameaçar fazer uma recomendação para que eu não seja aceita na universidade?

Qual o interesse de John Kreese em me manter presa ao Cobra Kai?

Por Você - Robby KeeneOnde histórias criam vida. Descubra agora