Capítulo 45

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Eu voltei ao cobra Kai no dia seguinte, como se nada tivesse acontecido.

Como se John Kreese não tivesse socado o meu irmão, como se os alunos desse lugar não tivessem feito uma vigia na porta da minha casa, como se fosse só mais um dia como qualquer outro.

Eu não falei muito, apenas fotografei e gravei alguns trechos do que pareceram os treinos mais intensos que já presenciei aqui.

A forma que eles estavam conduzindo as lutas a serem muito mais violentas, como se estivessem de fato em uma competição e não em um treino que deva ensinar.

Garotos que eram oprimidos agora são ensinados a oprimir.

Não consigo reconhecer os meus amigos.

Não consigo reconhecer o sensei Lawrence.

Esse não é o cobra Kai.

— Sensei Kreese — Chamei sua antes de entrar no pequeno escritório onde ele agora ocupa a cadeira principal — Sobre os vídeos e as fotografias do treino de hoje, não sei se dá para publicar.

— E por que não?

— O site do cobra é usado pra atrair alunos, não acho que alguém vai querer pagar para apanhar de lutadores mais experientes, nos vídeos não tem supervisão, não tem cuidado, não existe piedade.

— Senhorita Juts, esse é o cobra Kai, aqui não existe piedade — Disse se encostando de uma forma confortável para poder me encarar com atenção — Não vamos mais receber esses alunos fracassados, Lawrence teve sorte com a primeira turma, mas não teremos na próxima.

— Está pensando então em trazer jovens profissionais? Não é o certo, o cobra Kai abriu a porta para todos esses garotos, o sensei acreditou neles, ele pode fazer de qualquer um um grande lutador.

— Nem mesmo você acredita nisso. Por que não se senta? Temos que discutir sobre uma nova cara para o cobra Kai, vamos mudar alguns detalhes, mudar não, trazer de volta.

— Thais — Ouvi Miguel me chamar — A gente vai ao cinema, você vem?

Neguei e sorri ao ver Tory ao seu lado, é bom ver que ela está se enturmando bem.

— Eu fiquei alguns dias fora, preciso resolver algumas coisas com o sensei Kreese.

— Mas o sensei Lawrence já foi — Miguel estranhou.

— Johnny Lawrence não é mais o único sensei aqui, senhor Diaz.

A voz firme de Kreese fez Miguel se calar.

— Me liga quando sair daqui — Pediu pra mim e eu assenti, enquanto eles saiam me sentei do outro lado da mesa de frente ao homem de feição seria, que agora tem um leve sorriso no canto dos lábios como quem está prestes a aprontar.

E o pior é que ele não está sozinho, seja lá qual for a ideia, espero que não respingue em mim.

Foram horas com a porta daquele "escritório" encostada, horas discutindo um novo design pro site.

Quer dizer, não alterando o atual, mas criando um novo, um que eu não tenho permissão pra falar sobre.

Um novo site com o mesmo nome do atual, só que totalmente diferente. Com um novo propósito.

Já era quase noite quando saí, digitei uma mensagem para Miguel dizendo que estava indo pra casa.

Mas fui surpreendida por ele assim que cheguei a esquina.

— Está tentando me matar do coração?— Acusei após um susto.

— Foi mal, eu vi que você ainda não tinha saído quando vim do cinema, fiquei preocupado.

— Não tem motivos pra preocupação, Miguel, tá tudo bem.

— Tem certeza? Eu soube o que aconteceu com o Demetri, ia entender se você não voltasse.

Começamos a andar lado a lado.

— Todo mundo merece uma segunda chance.

— O sensei Lawrence disse a mesma coisa quando questionei algumas coisas, achei que talvez você fosse concordar comigo.

— Concordar sobre o que?

— Sobre como o sensei Lawrence parece ter mudado de ideia sobre a permanência do sensei Kreese, está deixando ele controlar algumas coisas.

— Como se fosse o diabinho parado no ombro do sensei sussurrando no ouvido dele?— Dei um sorriso e o empurrei levemente com o ombro — Isso só são os efeitos das mudanças, logo tudo vai se tornar comum e aí vão mudar de novo. A sensação de desconforto com o que é novidade nunca passa.

Miguel colocou um dos braços sobre meu ombro me puxando pra perto.

— Quando foi que você deixou de ser uma profissional em flertes para ser boa com palavras?

— Ainda sou irmã do Demetri, o dom das palavras está na nossa família — Sorri — Mesmo que até nisso eu consiga ser melhor.

— E como ele está? Não consegui falar com ele depois do que aconteceu.

— Ele e o Eli tiveram um desentendimento nesses dias, então acho que ele está evitando.

— As coisas estão mudando, éramos quatro e agora somos só eu e você pelo visto.

— Bom, era pra ser só eu, mas você decidiu me esperar escondido como o Joe faria.

— Alguém ainda precisa proteger você.

Miguel ia dizer mais alguma coisa, mas foi impedido pelo celular tocando, a chamada durou poucos minutos.

— O pessoal tá na lanchonete, quer ir pra lá?

Mesmo cansada eu concordei em ir.

Um dia cheio de decisões ruins.

Por Você - Robby KeeneOnde histórias criam vida. Descubra agora