Capítulo 43

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— Pra que uma carteira de motorista? Em um apocalipse zumbi eu conseguiria sair do lugar, talvez não em uma subida muito ingrime, mas o que é correr mais um quarteirão e roubar outro carro? Para aprender a roubar eu não preciso de aulas e nem de um exame.

Minhas palavras tentando argumentar em uma fuga seguiam os passos de meu padrasto pela nossa casa enquanto ele segurava uma xícara de café quente e um jornal que foi entregue nesta manhã.

— Acaba de assumir que talvez não saiba fazer uma rampa.

— Não sei, mas como eu disse, no apocalipse não precisamos procurar vagas ou fazer baliza.

— Thais — Ele parou de andar me fazendo parar e se virou para mim — Se o Demetri vai fazer aulas e o exame de direção você também vai fazer.

— Eu sou boa no banco do passageiro, vou atualizar o gps do Demetri e fazer uma boa playlist pra ficar ao lado dele.

— Não é uma democracia, não tem direito a votos — Deixou muito claro olhando nos meus olhos — E pare de ficar trancada no seu quarto, não queremos que achem que temos uma gótica adolescente em casa.

— Você nunca quer que eu participe de nada, por que insistir em me fazer uma motorista com carteira aprovada?

Ele voltou a ficar de costas.

— É irmã do meu filho e parte da família, tem os mesmos direitos.

O homem não falou mais depois de passar pela porta aberta de vidro que nos direciona ao nosso jardim mediano nos fundos, fiquei mais alguns minutos parada tentando entender.

É impressão minha ou o senhor Alexopoulos acaba de me considerar parte da família?

Dei alguns pulinhos silenciosos parada no mesmo lugar antes de saltitar de volta a sala que a pouco tempo passamos sem olhar para os lados.

— Bom, parece que eu não tenho escolha — Me sentei entre minha mãe e irmão que pareciam entediados preocupando algo na tv— Se eu sou irmã do Demetri e parte dessa família eu tenho esses direitos — Sorri o suficiente pra não enxergar.

Talvez por ter lágrimas em minhas vistas eu tenha demorado a perceber que receberia um abraço das minhas pessoas favoritas.

Só eu sei o quanto eu queria que desse certo, o quanto nenhuma das ofensas e humilhações puderam me atingir.

Porque essa é a minha família, é a família que eu conheço como minha e em algum momento daria certo.

E agora eu posso estar em casa, mais do que antes.

— Tá vendo, eu nunca menti quando disse que você é dessa família — Mamãe sorriu segurando meu rosto enquanto minha cabeça estava apoiada sobre o ombro de Demetri — É a minha filha, minha garotinha linda.

A mulher de cabelos escuros me abraçou como sempre abraça, o que me faz pensar que mesmo sendo o melhor abraço que eu poderia ter sempre que eu preciso é diferente do que seria da minha mãe biológica?

O que eu sei da mulher não é nada, só que ela estava focada nos estudos e meu pai era mais "livre" ela veio nos primeiros anos, anos que eu não me lembro.

Até que as visitas diminuíram até não mais acontecerem, e então éramos eu e o papai, até sermos nós e os Alexopoulos.

Pelas poucas visitas que meu pai tem feito talvez eu deva me acostumar a dizer eu e os Alexopoulos na verdade.

Ninguém do cobra veio nos últimos dias, recebi algumas ligações do Miguel, mas o um dos homens que eles tem idolatrado fez com o meu irmão me faz ter tanto nojo que eu não posso atender.

Não sinto raiva.

Estou só decepcionada.

Decepcionada de sermos amigos tão bons como pelo visto não temos.

Por Você - Robby KeeneOnde histórias criam vida. Descubra agora