10: o fim, 2.

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— Você precisa tirar esse ônibus daqui agora! — Marinette gritou, transtornada, gesticulando, suando e esbravejando com o motorista.

— Marinette, você precisa se acalmar. — A professora tentou tocá-la, mas ela desviou de seu toque; se Caline a apertasse, ainda que de forma gentil, ela iria urrar de dor. No estado de nervos em que estava tudo parecia muito mais sensível do que antes.

— Marinette, o que- — Adrien se aproximou, pondo a mão no ar para tocá-la.

Marinette o segurou, apertando seu punho com firmeza. A memória vívida de Nino tentando contê-la, de Chat em cima dela, sufocando-a, deixando que ela berrasse sem ar no chão até se acalmar, a fez reagir única e exclusivamente por impulso. Ela o soltou quando percebeu que o estava machucando; seus dedos fecharam ao redor da pele dele com tanta violência que, quando ela o soltou com um empurrão, enojada consigo mesma, conseguiu ver a marca de seus dedos nele.

— Me desculpa. — Ela sussurrou, olhando para os colegas de turma assustados com sua reação.

Marinette parecia doente. Estava pálida, as bochechas levemente vermelhas como quem está cozinhando em uma febre altíssima; tudo isso somado ao tremor, ao tom de voz e aos olhos que não conseguiam manter contato visual. Havia perdido uma quantidade significativa de peso nos últimos dias em que faltou ao colégio, e o casaco estranho em um dia de calor intenso, os cabelos despenteados, a aura caótica, a tristeza que ela exalava era completamente diferente daquela Marinette que todos conheciam. Ela estava assustando todos eles. Parecia frágil, mas incrivelmente feroz; a forma com que ela segurou Adrien em um segundo, a força que aplicou sem nem mesmo perceber, fez com que todos dessem um passo para trás. Para longe dela.

— Marinette, se acalme. Venha aqui. Venha. — Alya se aproximou dela devagar, sem tocá-la, e mesmo a contragosto conseguiu convencê-la a se afastar.

Alya a conduziu pelo cotovelo até a parte traseira do ônibus, vendo-a tão arisca, tão avessa ao seu toque, que a soltou quando estavam sozinhas. Marinette enxugou o suor da testa, tentou organizar o cabelo da melhor forma possível e respirou fundo. Estava parecendo louca. Ela estava louca. O estresse estava se manifestando nela de uma forma diferente; agora, depois de tantos cenários tenebrosos, depois de tanto trauma, ela só conseguia enxergar que estava saindo do seu controle. Seu autocontrole tão inabalável, tão inatingível, parecia tão frágil que uma fagulha a incendiava por inteiro. Marinette experimentou da nova sensação que a acometia vez ou outra quando tudo estava prestes a desabar; a falta de ar, o pensamento sem foco, a visão turva, e o pavor de não conseguir se estabilizar outra vez. Estava acontecendo com mais frequência, e ela não sabia quando havia começado a reagir desta forma.

— Qual é o problema, Marinette? — Alya perguntou devagar, com carinho. A amiga, afinal de tudo, acima do medo que tinha dela, sentia compaixão. Sentia amor. Vê-la naquela angústia a deixava desconfortável.

— Estou a quase vinte minutos tentando conversar com aquele motorista. Vinte minutos. A Lila está vagando, causando o caos e eu estou presa aqui tentando resolver a questão com esse maldito ônibus. — Marinette chutou a parte lateral do ônibus com tanto ódio que Alya se afastou. Envergonhada com a forma que reagiu, ela se aproximou outra vez, tentando mostrar a Marinette que não estava apavorada com ela.

Marinette sorriu, sentindo-se estúpida. Havia assustado todos eles de uma forma irreparável. Até mesmo Alya, que a conhecia melhor do que ninguém, estava com medo. Medo dela. Medo do que ela era capaz de fazer.

— Qual é a relevância disso tudo, Marinette? Podemos ir e deixá-los aqui. — Então Marinette olhou para ela como se tivesse dito algo idiota.

— Perdeu o juízo? Não percebeu a quantidade de carros que passaram por nós desde o aparecimento da Lila? Estão saindo da cidade! Todos de uma vez. Pelo túnel.— Marinette esbravejando e logo em seguida respirou fundo, exausta de ter que conter a si mesma, de pensar nas suas palavras, nos seus movimentos e em tudo o que fazia para não assustar ninguém. — Estamos parados perto desse túnel miserável que vai engarrafar em pouco tempo. Tenho medo de que a Lila tente alguma gracinha com tantas pessoas aglomeradas.

Cicatrizes de batalhaOnde histórias criam vida. Descubra agora