11: a volta daqueles que nunca foram.

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papo muito sério agora: há narração de tentativa de suicídio nesse capítulo. não há romantização, de maneira nenhuma. o que eu estou tentando fazer é contar uma história, e de modo algum romantizar suicídio. cientes do contexto da narrativa, espero que entendam minhas intenções.

se você for sensível ao tópico, NÃO LEIA. seja cauteloso com a sua saúde e evite gatilhos. estou avisando.

no mais, esse é o primeiro capítulo do ano. dei uma encurtada porque não gostei da segunda parte e planejo reescrever.

boa leitura.

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O mundo ruiu em caos e vermelho sangue; entre chamas carmesim e amargura. O mundo mostrou-se cruel outra vez, e ela, como se não conhecesse o sentimento de ser traída — por ele, por si mesma, por tudo e todas as coisas —, se viu sendo arrastada pela mesma onda de sofrimento novamente. Desta forma, o ciclo continua intacto, tal qual uma roda de tortura.

Marinette sentiu quando mãos gentis e quentes a retiraram do chão. O farfalhar suave daquele embalo foi assimilado entre segundos de escuridão e lapsos repentinos de flashes do momento presente. Ainda era possível sentir o sangue em sua testa, o ponto de ruptura entre suas costelas e o pulmão sendo tocado pelos fragmentos dos ossos; ainda estava suando e chorando, histérica, enquanto se contorcia no chão. Mas havia, também, o calor tão distinto do qual não se lembrava, assim como um sussurro irrompendo entre suas memórias, chamando seu nome. E a voz era tão familiar, tão amorosa.

Emergir de dentro de si mesma era como lutar contra um afogamento. Debatia-se com tudo o que possuía, buscando ar; retornava então a ponte no seu agora, e então afundava outra vez para onde estava antes. Ao seu pesadelo constante e vermelho. Quando emergiu novamente, crendo que esta seria a última vez que precisaria lutar contra a correnteza, Marinette encheu os pulmões, ainda sentindo a mesma dor fantasma no lado em que havia sido atingida, e berrou. Seu rosto tornou-se escarlate, e ela suava, coberta de lágrimas, com o muco que saia de seu nariz, em um desespero latente; seu cérebro ainda não havia assimilado com total clareza de que estava longe do perigo. A adrenalina ainda circulava de maneira monstruosa em seu sistema nervoso, levando-a a um pico tão elevado de súbita energia que agitava-se, incapaz de se manter quieta. Marinette desconheceu as mãos tão gentis que a seguravam; quentes e amorosas, calejadas e firmes, ela as assimilou com as mãos brutas e assassinas de Lila, mesmo que não houvesse uma semelhança sequer. E então ela se desesperou, chutando para se livrar daquelas mãos odiosas, arranhando e socando todo o vislumbre de pele, de rosto, que conseguia ver através da visão turva e da confusão.

— Querida, querida! Somos nós. — Sabine, a voz quente a chamá-la no meio do inferno, tornou a gritar. Sua mãe firmou as mãos nas laterais de seu rosto com violência, parando-a no ato de se agitar. Marinette mordeu a língua ao ser freada, e o gosto ferroso do sangue a lembrou do asfalto úmido coberto do líquido vermelho, a dor enlouquecedora a retirando do ar e o silêncio acusatório que pairava entre os heróis na ponte. Um murmúrio de dor escapou de seus lábios trêmulos. — Está tudo bem, minha querida. Acabou. Acabou, meu amor. — Sabine sussurrou enquanto acariciava suas bochechas com os polegares, vendo-a negar em absoluto desespero.

Marinette então amoleceu, aquietando-se no colo de seu pai; entendeu, finalmente, onde estava. O choro, no entanto, não cessou; ela chorava tanto que, em determinado momento, passou a arfar e tossir. Buscava ar com sofreguidão enquanto dizia incontáveis “sinto muito”. Sabine, compadecida do sofrimento doloroso de assistir de sua filha, beijava-lhe o rosto lavado de suor, amassando-se de forma torta contra ela. Tom a apertava contra o peito arranhado, lhe dizia coisas doces, palavras de afeto, e chorava em seus cabelos sentindo-se impotente perante a dor de Marinette.

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