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Tento levantar da cama. Minha cabeça em desnorteamento parece girar. Minhas pernas pesam. O dia já está escurecido. Não sei quando cheguei em casa, quando dormi ou quanto tempo dormi. Escuto vozes vindas do cômodo da cozinha.
É a Giovanna!
Abro a porta e corro para encontrá-la. Paro. Rodrigo e Alessandra me olham assustados. Os dois levantam-se em um impulso e rapidamente me alcançam. Parecem preocupados.
- Cê tá acabado, Zé! - O Rodrigo fala.
- O que aconteceu?! Que horas são?! Como eu cheguei aqui no apartamento?! Cadê o meu celular?! - falo exasperado.
- É melhor você sentar, Zé! - A Alessandra fala e me puxa pelo braço com cautela. Estranho a sensação de temeridade que ela transmite. - Nós vamos contar tudo. Tô preparando alguma coisa para jantarmos. Já são quase 19:00 horas, sô. Você não comeu nada.
- Cê lembra de ter ido até o meu apartamento? - O Rodrigo me pergunta.
- Lembro sim! Acho que lembro. Não sei, tá tudo muito confuso na minha cabeça. Cadê o meu celular?!
- Você chegou lá no apartamento fora de si, sô! Tivemos que te dar um trem procê dormir. De onde você tirou essa força toda?! Coitada da Giovanna! Guerreira! Ai! - Alessandra dá uma tapa nele. - O quê?! Não pode nem falar o nome dela, uai?!
- Cadê meu celular?! Eu preciso falar com ela.
Eles dois se entreolham.
- Alê, acho que você deve ter deixado ele cair em algum momento hoje pela manhã. - Alessandra fala e sua voz parece querer me tranquilizar.
- Você pode me emprestar o seu, Alessandra?! Eu preciso falar com ela. - Me levanto.
- Cara, senta aí! Se acalma, zédendágua! A Alessandra falou com ela. Ela disse que vai vir aqui.
- Você falou com ela, Alessandra? Então deixa eu ligar pra ela também... - Olho para o Rodrigo - Rodrigo, você sabia?! Você sabia, porra?! A Alessandra eu sei que sabia, porque é amiga dela. Mas e você?! RESPONDE! - Vou em sua direção.
Sinto o sangue começar a fervilhar dentro de mim. Minha cabeça lateja a cada batida do meu coração, como se estivesse em sintonia.
- Se acalma, fédazunha! Eu também não sabia. A Alessandra me contou quando vocês foram pra fazenda, sô! Senta aí! - O Rodrigo diz estendendo os braços para mim.
Saio pela casa procurando as chaves do carro.
- Cadê as chaves do carro? - pergunto para eles.
- Você vai pra onde, zé?! - O Rodrigo pergunta.
- Vou comprar um celular. - respondo.
- Agora, fudeu! Senta aí, zé! A Alessandra já não disse que ela vem?! Riliento!
Me sento novamente passando as mãos pelo rosto.
- Ela disse que vem em qual horário? - Direciono a pergunta para a Alessandra.
- Ela disse que vinha à noite, mas não disse a hora.
- Liga pra ela. - Peço quase como uma súplica.
- Ligo! Mas fica calmo, sô. Porque senão, eu vou enfiar outro remédio na sua goela, Alexandre. Eu não tô brincando! Agora senta esse rabo aí e come. Fédazunha teimoso! - Ela resmunga.