NOTHING

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Giovanna

O celular da Alessandra toca.

- É um número desconhecido. Só um minuto, Gio. Espera um pouco, sá! - ela me diz.

- "Alô?! Quem fala?! Como você conseguiu meu número?!"

Pausa.

- "Eu vou matar o Rodrigo. Vocês são dois cachorros - pausa - Ei, não é pra mim que você deve explicações e desculpas, zé ruela!"

Enquanto a Alessandra conversa, percebo que é o Alexandre na ligação.

Meu estômago gela.

- "Se a Giovanna tá aqui em casa?! Então..." - Ela olha para mim questionando o quê responder para ele.

- Fala que eu não tô - falo o mais inaudível possível para que ele não escute.

- "Ela já foi. Isso mesmo. Não vá. Ela não quer falar com você. Deixe-a sozinha." - Ela o espera falar do outro lado da linha. - "Agora é sério, Alexandre, respeita o tempo da Giovanna, quando ela quiser, ela vai ligar pra você, mas deixa ela em paz, você já fez bastante por hoje, não acha sô?! Ah, Zé, eu não quero saber, você não me deve explicações. Tchau."

Ele continua falando.

- "Alexandre, me desculpe, não posso fazer isso. Tchau!"

Ela desliga.

- Obrigada, sá! - falo soltando o ar que não notei estar preso nos meus pulmões.

- Obrigada nada, Giovanna! Olha o desespero do homem. Querendo a todo custo que eu te ligue, que peça pra você escutá-lo. E outra, eu ainda quero mesmo que vocês conversem. Tem muita ponta solta nessa história, muita ponta solta na sua história, Giovanna.

Olho para ela e minha garganta trava. Eu sei. Eu sei disso.

- Mas é exatamente isso, Alessandra. Talvez se eu me afastar, tudo se resolva, tudo fique bem, ele não vai se magoar e nós seguimos nossas vidas como antes. Como sempre deveria ter sido.

Ela me olha incrédula.

- Giovanna, cê tá se escutando?! Cê quer usar o que aconteceu pra tirar o teu da reta. O Alexandre vai passar o resto da vida pensando que você o deixou por causa de um beijo que nós nem sabemos direito como aconteceu. Cê tem noção do que cê também tá fazendo com ele?! - ela começa a falar de forma séria. - Se você quer voltar pra sua vida de antes, pra continuar sendo aquela planta, sem vida e triste, vagando por aí, volte. Mas seja sincera com ele, diga que viu o beijo, que ele é um cachorro, brigue com ele, faça o que você quiser, mas também conte pra ele sobre o Pedro, ele merece saber. Eu tô puta com ele, mas ser sincero também é uma forma de respeitar o outro e a si mesmo. Seja verdadeira, Giovanna!

Fico em silêncio por alguns minutos.

- Obrigada, Alessandra! De verdade, me desculpe por tudo. Eu vou pensar. Prometo! Mas agora preciso ficar sozinha.

Falo me levantando. Ela parece arrependida do que disse, mas eu sei que tudo o que falou é verdade. Eu sei que ela não quer me prejudicar, mas apenas tentar me ajudar.

Se ela ao menos soubesse.

- Gio, se você quiser ficar, as portas estão abertas. Sempre estarão! Aqui tem o quarto de hóspedes e o Rodrigo dorme comigo - sua voz sai como um pedido de desculpas.

Me aproximo dela e empurro seu ombro, forçando um sorriso.

- Ah, tá! Cê quer que eu passe a noite te escutando gemer, enquanto eu não posso fazer o mesmo com o Alexandre, porque ele beijou outra mulher e agora eu tô puta com ele porque ele a beijou e eu nem posso ficar puta com ele, porque eu sou casada e meu marido é um merda?! - Digo em tom de brincadeira.

SoulmateOnde histórias criam vida. Descubra agora