Três meses depois
Alexandre
- Shhh! Shh! - minha mãe canta e acalma o Ravi em seu colo. Olho para a Giovanna e depois para a minha mãe desacreditado. Giovanna também olha para ela admirada, após horas em que o Ravi não parava de chorar por causa de uma cólica, foi só a minha mãe chegar que ela conseguiu a proeza de fazê-lo dormir. Parece até um tipo de magia.
- Dona Sandra, como a senhora consegue? - Giovanna pergunta em um sussurro quase inaudível para não acordar o Ravi.
- Uai! O Alexandre era igualim. Chorão demais, sô - ela sorri em minha direção. - Cê quer que eu coloque ele no berço?! Acho que agora ele dorme um cadim.
- Simmmm - Giovanna responde exausta. - Por favor, Dona Sandra. A senhora é uma santa!
Me sento no sofá e observo as duas saírem em direção ao quarto do Ravi. O Harry, claro, vai atrás delas. Ele não sai de perto do Ravi por nada. Desde que o meu filho nasceu, ele se tornou seu companheiro vinte e quatro por dia. Levanto o rosto quando vejo a minha mãe se aproximar de mim.
- Meu filho, eu já vou - ela diz pegando a sua bolsa.
- A senhora quer que eu te leve em casa? - pergunto.
- Não precisa, filho.
- Mãe, o Ravi dormiu mesmo, zé?! - pergunto desconfiado.
- Cê tá duvidando da sua mãe, orêa seca?! - ela pergunta indignada.
- Não, qué isso! - respondo levantando as mãos.
- Tô brincando, meu fi. Eu falei pra Giovanna que vou mandar procê o nome de um remedinho que é bom pra cólica. Daqui a pouco cê vai comprar na farmácia.
- E se não funcionar?! E se ele acordar e começar a chorar de novo? - pergunto quase suplicando para ela ficar.
- Aí cês se vira.
- Ôh, mãe...
- Tchau, Zé. Dá um beijo aqui na mãe! - ela me abraça e beija minha bochecha. - Qualquer coisa cê me liga.
- Tá bão!
Levo ela até a porta e depois vou até o quarto do Ravi para constatar que ele está realmente dormindo. Quando entro, a Giovanna e o Harry estão observando o Ravi dormir. Ela me ouve chegar e vira-se, colocando o dedo indicador nos lábios para que eu não faça barulho. Depois se aproxima e segura minha mão me puxando para fora do quarto e fechando a porta. Ela caminha até a cozinha e cruza os braços à minha frente.
- Ele vai acordar... - ela fala se referindo ao Ravi. Vejo olheiras em seus olhos e seu semblante cansado.
- Vai... - fico de frente para ela e cruzo os braços também.
- Vai chorar... - ela continua.
- Vai...
- Vai ser mais um dia em pé balançando ele de um lado para o outro e talvez outra noite de sono...
- Vai...
- Cê não acha que é melhor... - eu já sei o que ela vai falar.
- Acho que é melhor ir comprar o remédio agora, antes que ele acorde.
- Quem vai? - ela pergunta.
- Você - respondo.
- Por que eu?! - ela pergunta indignada.
- Porque eu já fiquei com ele enquanto cê tirava um cochilo.
- Não vale, zédendágua - ela me dá um tapa.