BE PROUD

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[...]

Giovanna

- Eu trouxe algumas roupas limpas procê. Tem certeza que não quer ir comigo, Gio?! - a Alessandra pergunta me estendendo a bolsa.

- O Alexandre já vai pra enfermaria, Alessandra! Eu quero ficar com ele. Eu quero cuidar dele.

Ela me olha de forma complacente.

- Ele já falou alguma coisa além da palavra "água"?! - ela pergunta.

- Ainda não, ele tá se recuperando. Ele vai ficar bem! - falo mais para mim mesma.

- E o pai dele?! Que homem insuportável! Não sei como a Dona Sandra aguenta. Uma mulher tão gente boa como ela. A mulher é um anjo em forma de gente. Cê tá doido!

Fico em silêncio, porque sei o motivo.

- Apesar dele ser um asco, me deixou ficar perto do Alexandre. A Dona Sandra me disse que não vai poder cuidar dele e me pediu pra fazer isso. E mesmo se ela não tivesse pedido, eu iria de qualquer forma - dou de ombros.

- Então, amiga, boa recuperação procês dois. Eu vou ter que ir pra casa! Cê já sabe: no que precisar eu vou estar aqui procê. Qualquer coisa, qualquer uma, pode me chamar, Zé. Principalmente, porque eu conheço os seus dotes culinários. - Ela me abraça enquanto choramos e rimos ao mesmo tempo. - Por favor, Giovanna, não exite em pedir ajuda caso você precise, sá! Por favor! Não fique em silêncio! Me prometa que você vai me pedir ajuda caso precise...

Ela me abraça forte.

- Eu prometo! E eu não sei nem como eu posso te agradecer por tudo que você fez e está fazendo por mim. Eu não tenho como te agradecer! Por tudo! Por me entender. Por esperar o meu tempo. Por não me pressionar... - minha voz some aos poucos.

- Cê já passou por coisas demais! Eu não faria isso contigo, mas eu espero que você me ouça, que você procure...

- ... "ajuda psicólogica"! - termino a frase dela. - Eu vou, Alessandra. Eu prometo! Deixa só o Alexandre melhorar um pouco que eu vou.

- Melhorar e voltar a falar... - ela diz.

- Isso! E voltar a falar. Eu prometo que vou! - seguro a mão dela tranquilizando-a.

[...]

Giovanna

Alguns dias depois.

Entro no quarto sorrindo para ele, como tenho feito nos últimos dias. Tento estar animada para animá-lo, porque ele parece ter entrado em um estado depressivo desde que acordou. Seu olhar está perdido. E ele não fala. Nada.

- Alê, nós vamos pra casa! Nós vamos pra casa! Você vai ter alta! - me aproximo dele.

Ele apenas me olha. Sua atitude se tornou algo com a qual eu já me habituei. Ele permanece em silêncio a tudo que eu falo e pergunto. Apesar de estar evoluindo bem em sua recuperação, esse é o único ponto que ainda me preocupa.

- Amor, nós vamos pra casa! - Passo minha mão pelo seu rosto. - Eu vou cuidar de você!

- Eu quero que um profissional cuide de mim. Quero contratar alguém, Giovanna.

- Como?! - Sinto um impacto por serem essas as suas palavras após ficar sem falar durante tantos dias. Sua voz é nítida, límpida e as palavras são pronunciadas sem esforço. A frase bem formulada me dá a sensação de que foi pensada e programada para ser dita no momento certo. E só então eu percebi que na verdade ele não queria falar comigo. Esse tempo todo em silêncio e ele apenas não queria falar comigo. Ele não quer falar comigo.

SoulmateOnde histórias criam vida. Descubra agora