ELE

Satoru

Satoru 

— Você sabe que a gente acabou de ganhar o campeonato nacional, né? — Haibara perguntou pela centésima vez na última hora. 

Ele estava com um sorriso bobo de rei do mundo a noite toda. Desde antes de virar quatro doses de vodca.

— É, eu sei. 

Pareci ausente enquanto vasculhava com os olhos a multidão no bar que escolhemos para comemorar. 

O do hotel era caro demais, então decidimos sair esta noite. 

De acordo com a pesquisa do pessoal, este pequeno bar subterrâneo tinha bebidas pela metade do preço nas noites de domingo e, aparentemente, elas não tinham gosto de urina. Mas não estava nem aí para o gosto da bebida. 

Só estava interessado no efeito que tinha em mim. 

Precisava ficar bêbado. 

O bastante para não ter que pensar no idiota que eu era.

A voz de Haibara me tirou dos meus pensamentos sombrios. 

— Então melhora esse humor — ele mandou — Somos campeões, cara. Ganhamos de Yale. Acabamos com eles.

Era verdade. 

O jogo terminara dois a zero. 

Limpamos o gelo com nossos adversários, e eu deveria estar feliz com isso. Não, eu deveria estar pirando. 

Foi para isso que treinamos o ano todo, mas, em vez de saborear a vitória, estava ocupado demais chateado com o fato de que Geto tinha namorada. 

É, pessoal, Suguru Geto era hétero. 

Que choque.

Dava para imaginar que eu já teria aprendido a lição. 

Passei seis anos torcendo para que a atração não viesse só de mim. Para que, de repente, ele pensasse: Hum, acho que estou a fim do Satoru.

Ou quem sabe descobrisse que jogava nos dois times e decidisse tentar com um cara, pra variar. Nenhuma dessas possibilidades estava certa, no entanto. E nunca estaria.

À minha volta, os caras do time riam, brincavam e relembravam seus momentos favoritos do jogo. Ninguém notava que eu estava quieto. Minha mente continuava voltando para Suguru, sua namorada e a pegação que interrompi ontem à noite.

— Precisamos de mais uma rodada — Haibara anunciou, procurando por um atendente.

Quando vi a moça do outro lado do balcão, desci da banqueta abruptamente. 

— Vou lá pedir — falei, então me afastei antes que qualquer um pudesse perguntar por que de repente estava tão generoso.

No bar, pedi outra rodada para o grupo, então apoiei meus braços no balcão de madeira e estudei as garrafas nas prateleiras. 

Bebi cerveja a noite toda, mas não estava adiantando. 

Queria ficar bêbado de verdade. 

Precisava de algo mais forte.

Senti um friozinho no estômago quando meu olhar recaiu sobre uma garrafa de bourbon. A bebida preferida do meu pai. Mas o que ele comprava era mil vezes mais caro que a garrafa na prateleira. 

Dirigi o olhar para as garrafas de tequila. 

Era o que Geto estava bebendo ontem à noite. 

Então continuei. Jack Daniel’s.