SUGURU
Julho
🏒🏑
Alguns dias depois, recebi um e-mail do meu agente.
Um ano antes, eu enchia a boca para dizer isso. Meu agente. Parecia bem importante, não?
Nem tanto assim.
Quando criança, eu costumava colecionar cards de hóquei. Vinham em pacotes de dez com um chiclete que tinha um gosto horrível. Em cada pacote havia um jogador bom — com sorte, que eu ainda não tinha — e nove caras de quem nunca tinha ouvido falar. Esses nove ficavam no fundo de uma caixa de sapato, onde esperavam.
Muito de vez em quando, um deles ficava famoso, mas era exceção.
Dez anos depois, eu era para o meu agente como um dos caras no fundo da caixa de sapato. Na verdade, acho que ele nem escrevia os e-mails que recebia.
Esse último perguntava quando eu iria mudar para Detroit.
O clube ia colocar você em um hotel perto do rinque até que encontrasse uma casa. O contato da corretora seguia anexo. Marcaria um encontro com ela assim que chegasse a Detroit.
O fim do verão estava cada dia mais próximo e eu não podia mais adiar meus planos.
Entre os treinos no rinque na quinta, procurei por Yaga em seu escritório apertado. Como prometi à minha mãe que tentaria voltar para casa, precisava ver se isso era possível.
— Tem um segundo? — perguntei da porta.
Yaga acenou para que eu entrasse, então tirou os olhos do computador.
— E aí, treinador?
Ainda achava engraçado quando ele me chamava assim.
Para os mais novos, dizia: E aí, garoto?
— Preciso planejar minha vida, o que sempre é muito divertido. Você tem ajuda o suficiente pro fim do mês?
Ele me observou, pensativo.
— Senta aí, Geto.
Me joguei na cadeira como um garoto que foi chamado para a diretoria. Mas não tinha certeza do motivo. A expressão dele era séria, e achei que estava prestes a descobrir por quê.
— Não ouvi você mencionar Detroit o verão inteiro — ele falou, juntando a ponta dos dedos — Por quê?
— É… Tenho andado ocupado. E você nem vai querer saber com o quê.
Yaga sorriu para mim, balançando a cabeça.
— Não acredito nisso. Desculpa. Um cara que está prestes a ter tudo que sempre quis não conseguiria ficar quieto. Nem mesmo você.
Merda.
O treinador estava dando uma de psicólogo para cima de mim.
— Bom… não sei. Só não tenho certeza de como será. Vai ver que daqui a um ano só vou estar falando nisso.
Ele assentiu devagar. Pensativo.
Eu me sentia como uma ameba no microscópio.
— Você sabe que te considero um puta goleiro. Você joga com o coração, e alguém vai notar isso. Mesmo que demore um pouco.
De repente ficou difícil engolir.
— Obrigado — consegui dizer.
— Mas às vezes imagino o que você pensa. Nem todo mundo quer se meter na confusão quando pode, por exemplo, ser treinador.
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ELE
FanficEles não jogam no mesmo time... Ou será que jogam? Suguru Geto nunca entendeu por que perdeu seu melhor amigo de longa data. Quatro anos atrás, Satoru Gojo, seu arrogante e impulsivo companheiro, cortou todo contato sem explicação. A última noite qu...