Parte 2 - Nós - Capítulo 49

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Satoru 

🏑🏒

Depois de vencer Minnesota por três a dois, sentei numa poltrona na primeira fileira do ônibus. Eu deveria estar tão animado quanto os caras à minha volta, mas não era o caso. 

Já fazia dois dias que eu estava surtando. E isso ficou óbvio pela minha falta de gols no gelo naquela noite. Não dei nenhuma assistência. Me matei, mas não consegui fazer nem um pouco de mágica. 

Porque Suguru tinha levado toda a mágica consigo quando me deixou.

Ele não te deixou. Só está de férias.

Porra nenhuma. 

Ele me deixou.

Os olhos de Lemming encontraram os meus por acaso quando entrou no ônibus. Eu sabia que não tinha sido intencional, porque ele desviou o rosto depressa. Então passou pelo lugar vago ao meu lado e foi para os fundos. 

É, nem todos os meus colegas de time ficavam loucos para sentar ao lado do cara gay. Parecia que o fato de ambos termos crescido em Boston não era o bastante para ficarmos próximos.

Dez minutos depois, o ônibus parou em frente a um hotel cinco estrelas no centro de Saint Paul. Todos saímos do veículo e entramos no saguão. Eu estava de mau humor quando fui para o quarto. Tirei o terno e coloquei calça e blusa de moletom, mas ficar numa boa na suíte vazia só me deixava ainda mais chateado, então decidi descer para o bar do hotel.

Hajime e alguns outros caras iam a uma casa de striptease naquela noite. Até me convidaram, mas não pareceram muito surpresos quando recusei. Começaram a aceitar que eu estava rabugento e antissocial, acho.

Peguei o elevador e fui para o térreo, sem me importar com minhas roupas desleixadas. A rotina do terno e gravata era reservada para a viagem e as entrevistas depois dos jogos, mas agora eu podia relaxar um pouco. Se eu estivesse a fim de beber alguma coisa de moletom, era o que eu iria fazer.

Sentei numa banqueta alta em frente ao longo balcão brilhante e pedi um uísque, que o barman serviu rapidinho. Talvez ele visse o desespero nos meus olhos. Mas não se ofereceu para me ouvir, como se estivéssemos em um capítulo de Cheers, o que agradeci.

Enquanto bebia, peguei o celular para ver se Suguru tinha mandado mensagem, o que não aconteceu. A frustração borbulhava dentro de mim, queimando mais que o álcool que descia pela minha garganta. Ele me ligou quando pousou em San Francisco, mas não nos falamos de verdade. Nada além de algumas mensagens do tipo "Estou bem, meus pais estão bem"

Me perguntei se ele estava ensaiando para terminar comigo quando voltasse para casa. Meu coração se despedaçou com o pensamento. Virei o resto do uísque e pedi outro. 

O barman o preparou com olhos compreensivos.

Depois de cerca de cinco minutos sentado sem expressão e em silêncio, peguei o celular de novo. Meus dedos tremiam enquanto procurei o número de Misaki e ligava para ela. Era quase meia-noite em Saint Paul, mas só dez horas na Costa Oeste. 

A mãe de Suguru atendeu na mesma hora.

— Oi, querido! Você deve estar cansado depois de um jogo tão agitado! Por que não foi dormir ainda?

Sorri, apesar do nó gigantesco na minha garganta. Misaki Geto era a mãe que eu nunca tive. Era tão diferente ter alguém que realmente se importava se eu estava dormindo o bastante ou não.

— Não estou cansado — respondi. — Você viu o jogo?

— Todos vimos. Suguru quase socou a TV quando aquele babaca te derrubou no segundo tempo.

ELEOnde histórias criam vida. Descubra agora