30. A pior dor do mundo

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          O Paraíso tinha lhe dado tudo: lar, família, uma infância boa, experiências incríveis ao longo da vida, amigos ... um amor. Bom, é, lhe deu tudo, era inegável, mas também lhe tirou na mesma proporção.
Lhe tirou tudo.
O sangue do poeta estava em suas roupas, o anel que ganhou também se encontrava manchado. 
Com sangue do amor de sua vida. De sua eterna vida.

Passar sua existência eterna amado alguém que ele mesmo tirou a vida, seria seu pesadelo.
Seus passos no salão principal do Paraíso eram lentos, os olhos estavam focados no trono do avô, que está vazio, mas tem Álvaro em pé a frente deste. Áquila observa o rastro de sangue que vai até onde o feiticeiro está. Só não sabe dizer se é sangue do mesmo ou do corpo de Katherine.

— Seu namorado me feriu mesmo..— Álvaro ainda está de costas, nem mesmo se move, mas Áquila sabe que isso não significa que está com a guarda baixa.

— Foda-se.

Não há determinação no cupido, seu peito dói, mas não demonstra.

— Dói, não é? Ter tudo que ama tirado de você.

Áquila se cala. Uma espada de lâmina translúcida aparece em sua mão e seu olhar segue a mesma. Nunca tinha visto essa, não pensou nessa. Só pensou em matar Álvaro.
Somente isso.

— Eu posso sentir sua dor, cupido. Por que não desliga? —Se vira de frente. — Basta desligar e tudo vai desaparecer. 

A ferida feita pela lâmina Excalibur minutos antes, queimava. Uma fumaça verde ciano emanava dela, doía como uma chama infinita.

— Isso não é uma série de vampiros pra você me pedir para desligar.

— Eu ja estive no seu lugar, cupido. Matei o amor da minha vida e doeu muito. Eu sei que dói, mas as coisas são assim.— Da um passo à frente, tentando intimadar Aquila, nada acontece. — Eu vi a cena, pensei em atacar, mas essa droga queima e também ... – Mais um passo.— Queria ver você sentir minha dor.

— Não somos iguais, Álvaro. Não matei o Augusto por querer, eu não tive escolha. Você teve. 

— É verdade. — Está há poucos centímetros dele. — O maior destruidor de todos, é sim, o amor, Áquila. — Limpando o sangue das vestes.— Todos amamos algo ou alguém a ponto de matar ou destruir qualquer um por tal coisa.

Outras explosões, como as anteriores são ouvidas. A expressão do cupido está inabalável. Apático.

— Tudo isso por um homem. Nossa, Álvaro, você é patético.

Com somente um dedo,  ele empurra Aquila na parede a quebrando-a.

— Vocês sempre roubam tudo. Primeiro o seu avô roubou meu legado, meu nome, minha criação. — Ele faz cortes aparecerem nas mãos de Aquila, fazendo o mesmo gemer de dor. — Eu fiz tudo isso pra viver com meu amor, seria nosso local seguro ... Meu lar! Mas o Odélio tirou tudo! Depois você apareceu, Atila. Você roubou o Artur de mim dentro da minha casa! — Ele faz um corte no pulso do cupido. —Ele morreu de novo por sua causa!

Ele grita. Se Odélio não fosse tão ambicioso talvez tudo fosse diferente... parece que Álvaro não é só maldade. Ele amou alguém, amou ao ponto de criar o Paraíso; lugar mais seguro que existe.

— Eu me chamo Áquila! Não tenho culpa nenhuma disso... E o Augusto tambémn não tinha. — Ele fala com um tom apático. — Você não precisa destruir tudo, não precisa seguir por esse caminho, nós não te--

Enquanto Não Me Lembro De Nós | Livro I Onde histórias criam vida. Descubra agora