18. Aquele onde até o mar comemora com a gente.

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Cejo tem os fios mais ralos, a pele mais pálida e os olhos pequenos, murchos, cansados. Ela está dormindo quando Jennie adentra a sala nervosa, sem saber o estado que veria sua pobre mãe. A morena respira lentamente, quase esquecendo que precisa o fazer. Ela vai sentindo uma dor, aos poucos, misturada com culpa e preocupação. Todos aqueles anos longe de sua mãe tinham deixado ela com saudade e estar finalmente perto lhe proporcionava uma vontade incontrolável de chorar, de alívio. A morena poderia enfim, se derramar e se sentir cuidada, ao mesmo tempo que sua mãe era quem necessitava de cuidados.

Jennie estaria ali para cuidar dela dessa vez.

Ela se permite deitar o corpo por cima de sua mãe, a cabeça pertinho do coração, escutar batendo era um alívio sem tamanho. Jennie começa a chorar, balbuciando, como crianças fazem ao estarem emotivas.

— Eu vou esperar lá fo... — Roseanne diz, apontando o punho para trás, perdida na cena que ela preferia deixar acontecer a sós, mas Jennie não responde. Ela permanece ali, quietinha, grudada no canto do quarto.

Cejo se remexe, inclina o corpo e abre os olhos devagar, ela está sonolenta mas quando sua visão se engata em Jennie agarrando seu corpo e balbuciando, ela leva as mãos às costas da filha, afagando.

— Oh, oh. — A voz rouca, o sorriso de canto, os olhos brilhando. — Minha menina.

"Mãezinha" Jennie murmura, no pulo, quando ela levanta o corpo e enxerga Cejo acordada. Ela tem um sorriso que rasga o rosto, mas logo curva a boca pra dentro, denunciando que irá voltar a chorar, de alegria.

— Você sempre foi muito chorona, não é?

A sua mãe dá risada, a voz rouca e a cabeça balançando de maneira brincalhona. Ah como eu senti falta disso, ambas pensam. Tamanha saudade que pouco cabia naquele quarto de hospital, nem um estádio suportaria o tanto de amor guardado que Cejo tinha pela filha e Jennie pela mãe. Não havia medida que pudesse definir aquela exorbitante quantidade de carinho, sentimentos não podem ser calculados, afinal.

O lugar cheira a frio, as paredes são tão brancas que parecem engolir o resto do mundo, hospitais eram um pesadelo para Roseanne, mas ali, ao meio de uma cena como aquela ela poderia até dizer que se sentiu aquecida. Estava desengonçadamente cheia de desconforto, é claro, pensava que deveria ficar do lado de fora, queria mesmo dar o devido espaço para Jennie, mas tinha ficado estacada ali sem querer.

— Me desculpa. — Jennie levanta agarrando o próprio corpo com as mãos, acariciando os seus ombros, como quando está tentando se acalmar, como passou a vida inteira fazendo, sozinha.

— Pelo o quê? — Cejo tasca a língua no céu da boca e nega.

— Por ter deixado você sozinha todo esse tempo.  — Ela pausa. — Ter me ocupado com a minha vida e esquecido você, eu realmente... — A Kim balança a cabeça. — Me desculpa.

— Minha filha. — A mulher se remexe na cama e busca a mão de Jennie, entrelaçando as suas com carinho em cima de seu peito. — Tire isso da sua cabeça, as coisas acontecem naturalmente e você não tem que se desculpar por nada disso.

— Mas se eu estivesse aqui... — Jennie é impedida de continuar.

— Eu estaria doente da mesma forma e seria ainda mais triste vê-la preocupada. — Cejo aperta os olhos, fazendo Jennie lhe encarar.
— Não imagine nenhum "se", Jennie.

— Eu estava com saudades. — Jennie murmura, por fim.

— Eu também estava com saudades. 

E elas se abraçam novamente, ou melhor: Jennie abraça o corpo amuado e fraco de sua mãe na cama enquanto a mais velha acaricia suas costas e cabelos. A morena não consegue evitar, ela se sente chateada pelos anos deixados para trás e a falta de comunicação frequente, ela desejava que agora pudesse acompanhar sua mãe de perto. Ela quer ser presente, mesmo que fosse para estar vivendo uma fase ruim, estaria ao lado de Cejo não importava oquê.

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