08.

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08.

POV MARÍLIA

Nos três dias seguintes, fui dormir e acordei pensando na Maraísa. Ela habitava o meu último pensamento da noite e também o meu primeiro pensamento do dia. Ela. Seu jeito, sua voz, seu sorriso, seus olhos brilhando enquanto falava sobre os seus livros, a maneira como gesticulava e o seu rosto sempre corado. Mais ninguém. Apenas ela.

Sendo sincera, eu já sabia o que estava acontecendo, só não queria admitir. Mas ir dormir e acordar pensando na pessoa é algo que você não pode ignorar, algo que você não pode fugir e que te confirma absolutamente tudo. Eu estava apaixonada pela Maraísa, outra vez.

Como se já não fosse suficiente se apaixonar por um amor antigo, ela ainda era comprometida e jamais se interessaria por uma mulher. Além disso, éramos muito diferentes, pensávamos muito diferente em várias questões. A situação era dolorosa demais. Diante de todas as circunstâncias, concluí que me afastaria dela e faria isso pelo meu próprio bem.

Nos dias seguintes, me concentrei no trabalho e tentei me manter ocupada o máximo de tempo possível. Propositalmente, não fui encontrar Maraisa no final da sua sessão de terapia daquela semana.

Agora, sentada à mesa de um pequeno escritório que tínhamos na instituição, viajava entre a papelada de dezenas de casos. Eu estava tão distraída que nem percebi a sua presença, só me dei conta quando a avistei encostada no batente da porta, de braços cruzados, enquanto me observava com uma expressão serena.

-Oi. -murmurou.

-Oi. -engoli em seco após sentir borboletas no estômago.

Eu estava desesperada por causa da sua presença, desesperada e feliz, sentimentos contrastantes. Por um lado, queria que ela fosse embora, mas por outro, também queria que ela permanecesse ali.

-Muito trabalho?

-Ahn... até que sim. -fiz uma pausa. -Você tá há muito tempo aí?

-Um pouco.

-E por que não me chamou?

-Você estava tão concentrada, uma cena tão bonita de ver que não quis interromper, então preferi aproveitar.

Ela pronunciava tudo com suavidade e me olhava de um jeito diferente, de um jeito intenso e profundo. Por que ela estava me olhando assim? Por que estava me dizendo aquelas coisas? Coisas que mexiam comigo, que faziam o meu coração disparar e as minhas mãos suarem.

-Você sumiu, Marília. -continuou.

-Eu estava ocupada.

-Tão ocupada a ponto de não conseguir me mandar uma mensagem?

Não, eu só estou tentando te tirar de dentro de mim.

-Senti sua falta. -continuou.

Eu também. Muita.

-Ahn... -limpei a garganta, tentando ganhar tempo e me recuperar da afirmação anterior. -Aconteceu alguma coisa? Digo, você nunca veio até aqui.

-Não, não aconteceu nada. -saiu de onde estava e caminhou na minha direção.

Seu gesto repentino fez aquela atmosfera complexa e intensa se dissipar, juntamente com a sua atitude diferente. Agora, ela parecia mais descontraída, menos intensa, a Maraisa de sempre, não mais aquela Maraisa que estava encostada no batente da porta e me olhava de um jeito intenso e profundo.

-Vim te mostrar uma coisa. -sentou-se de frente pra mim.

-O que?

Maraisa abriu sua bolsa e tirou de lá um caderninho. De dentro do caderno, pegou uma foto e me entregou.

Sempre Foi Você - Malila Onde histórias criam vida. Descubra agora